ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
"Histórias de amor": as relações entre boys e clientes do cabaré Realeza
Este artigo é resultado da minha pesquisa de doutorado que, ainda em desenvolvimento, está situada num cabaré de homens que chamo de Realeza. Aqui o descrevo como um estabelecimento comercial que, ambientado numa casa, se organiza pela prestação de serviços sexuais por intermédio de um agenciador. Localizado numa cidade de médio porte do nordeste brasileiro, o cabaré Realeza tem recrutado boys de outros municípios, e que os defino genericamente como rapazes entre a faixa etária dos 18 aos 30 anos, de classes populares e em sua maioria negros. Após passarem a resistir no Realeza, os boys estabelecem relações das mais diversas com o estabelecimento: como aqueles que se mantém por meses ou anos em intercursos temporários ao município de origem, que saem e retornam a residir no Realeza, que são expulsos, ou mesmo que reconstroem seus projetos de vida a partir das redes construídas com o cabaré, mantendo algum nível de relação com ele. De modo geral, entendo que os boys, ao longo das suas trajetórias, estão (re)fazendo seus projetos de vida e junto a eles, optam por se engajarem na prostituição, ou não. Durante minha pesquisa no Realeza, tenho acompanhado as trajetórias dos boys na prostituição também serem (re)feitas por causa das relações afetivas e sexuais que eles mantêm com os clientes, como por exemplo: suas preferências ou exclusividades com eles; namoros e casamentos; ou mesmo, suas desvinculações temporárias ou permanentes do Realezas advindas dessas relações. Além disso, venho observando que tanto clientes como boys estão investindo, negociando, classificando e atribuindo significados as lógicas de intercâmbios sexuais, afetivos e econômicos que os aproximam. Ainda sobre as relações entre boys e clientes, observo o amor ser tematizado enquanto um sentimento organizador, seja ao reafirmarem sua presença, ou mesmo sua ausência. Pensando nisso, aqui utilizarei o amor para descrever e analisar os modelos de relação entre boys e clientes. Para tal fim tomarei como base casos que chamo de “histórias de amor”. Assim os nomino, pois, seja pelo meu contato retrospectivo ou prospectivo, costumava ouvir as relações serem (re)contadas, especialmente pelos clientes, em eventos ordenados e coerentes que do seu começo ao fim eram entrançados por objetivos narrativos. Para terminar, digo que no decorrer deste texto buscarei centralizar o sentimento de amor para explicar: as noções morais nas transações econômicas, sexuais e afetivas; as dinâmicas de poder e hierarquia que se expressam nas relações afetivas; as formas classificatórias, as práticas e os bens materiais que exteriorizam o engajamento de ambas as partes. De modo geral, este texto é sobre como o sentimento de amor ordena as interações entre boys e clientes.