Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
Segue o “fluxo”! Emoções a partir de uma etnografia numa cena de uso de crack no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Na pesquisa de Doutorado, propus discutir os desdobramentos sociais do consumo visto como problemático de crack, sob o ponto de vista dos próprios consumidores, sobretudo daqueles estigmatizados sob a pecha de “cracudos”, ou seja, indivíduos que construíram um sentido próprio de vida em torno do consumo de crack.
Me interessou mapear possíveis caminhos que levaram esses consumidores a uma situação que os distingue de uma parte da sociedade, constituindo uma rede de sociabilidade específica, de signos e sentidos próprios. Para tanto, busco refletir sobre o contexto social em que estão inseridos, seus hábitos, demandas e emoções, ou seja, examinar a partir de uma etnografia da cena pesquisada, as gramáticas emocionais relativas ao consumo problemático de crack.
Acionando o referencial teórico da Antropologia das Emoções (Coelho & Rezende, 2010), reflito sobre como as emoções dos usuários da cena pesquisada podem dialogar com a percepção social construída em torno de seus “modos de vida” e que emoções são mobilizadas ao narrarem suas trajetórias. Partindo de uma perspectiva contextualista dos estudos sobre as emoções, entendidas numa lógica pragmático-discursiva, penso na relação entre os discursos acionados e a dimensão micropolítica das emoções, evidenciando relações de poder, hierarquias, moralidades e desigualdades. Nesse sentido, mais do que pensar os estados intersubjetivos de onde emergiram as emoções, busquei pensá-las como um ato de enunciação que confere sentido, como uma forma de ação social que afeta o “estar no mundo” dos meus interlocutores e que são socialmente informadas.
Nesse quadro, a vergonha emergiu como afeto central, onde os moradores/frequentadores da ocupação pesquisada internalizam o que Milito e Silva (1995) chamaram de “cultura da evitação”, bem como atua como uma forma de conferir sentido, aglutinando a construção de identidades sociais a partir de uma emoção que, segundo Scheff (2000), é um tabu na modernidade, expressando a fragilidade na construção de vínculos e laços de sociabilidade.