ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
Escrita antropológica e aprendizado no contexto da diversificação da educação superior no Brasil
O trabalho aborda relações entre a escrita antropológica, aprendizado e conhecimento no contexto da recente diversificação e ampliação da educação superior no Brasil. O foco de análise é a minha atuação como professora de Antropologia e Ciências Sociais em um curso de Pedagogia pertencente a uma universidade pública localizada na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro (Brasil). A localização desse campus universitário viabiliza o acesso à educação superior de uma parcela significativa da população fluminense cuja vida passa-se, em boa parte, longe da capital do Estado. No campus alvo das presentes reflexões, a vida universitária discente envolve reflexões sobre os limites e possibilidades de ser da periferia para a elaboração de conhecimento, assim como sobre a necessidade de apreender, e quiçá reformular, lógicas e modos de produção acadêmica. Em 2022 e 2023, essas questões perpassaram as atividades de avaliação propostas por mim para o corpo discente. Uma de tais atividades foi a confecção de relatórios de aula, consistentes em descrições do desenrolar da aula, incluindo os debates e comentários da turma. Muitas das descrições elaboradas pelas discentes mobilizaram a atenção e o estranhamento de si e da sala de aula, além de reflexões sobre a distância geográfica e moral do centro (associado de maneira variável à cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado, ao campus da universidade nesta cidade, à população branca e /ou herdeira, entre outros). Os relatórios também me suscitaram reflexões quanto a minha posição ocupada na relação com os variados agentes envolvidos no campus em questão. Por vezes, tal posição suscitou rearranjos nas interações, especialmente em razão das minhas origens. Assim, os relatórios de aula, propostos como escritas com intenções antropológicas, provocaram constantes reformulações subjetivas entre as participantes - tanto na docente quanto nas discentes. O trabalho inicia colocando questões sobre a relação entre Antropologia, escrita e aprendizagem. Posteriormente, o trabalho tece comentários em torno das articulações entre as discentes, os relatórios de aula e eu, professora e autora do presente trabalho, pensando as implicações disso para o aprender e o conhecer. As reflexões desenvolvidas são atravessadas pela precariedade laboral, as condições de emprego, as necessárias atividades de cuidado e os impactos das recentes reformas oficiais implementadas no campo da Educação no Brasil. Assim, o trabalho busca evidenciar as possibilidades da escrita antropológica para transitar e interpelar modelos de produção acadêmica no contexto de diversidade discente na educação superior brasileira, tentando vislumbrar futuros possíveis.