Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
Escrita antropológica e aprendizado no contexto da diversificação da educação superior no Brasil
O trabalho aborda relações entre a escrita antropológica, aprendizado e conhecimento no contexto da
recente diversificação e ampliação da educação superior no Brasil. O foco de análise é a minha atuação como
professora de Antropologia e Ciências Sociais em um curso de Pedagogia pertencente a uma universidade
pública localizada na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro (Brasil). A localização desse campus
universitário viabiliza o acesso à educação superior de uma parcela significativa da população fluminense
cuja vida passa-se, em boa parte, longe da capital do Estado. No campus alvo das presentes reflexões, a vida
universitária discente envolve reflexões sobre os limites e possibilidades de ser da periferia para a
elaboração de conhecimento, assim como sobre a necessidade de apreender, e quiçá reformular, lógicas e modos
de produção acadêmica. Em 2022 e 2023, essas questões perpassaram as atividades de avaliação propostas por
mim para o corpo discente. Uma de tais atividades foi a confecção de relatórios de aula, consistentes em
descrições do desenrolar da aula, incluindo os debates e comentários da turma. Muitas das descrições
elaboradas pelas discentes mobilizaram a atenção e o estranhamento de si e da sala de aula, além de
reflexões sobre a distância geográfica e moral do centro (associado de maneira variável à cidade do Rio de
Janeiro, capital do Estado, ao campus da universidade nesta cidade, à população branca e /ou herdeira,
entre outros). Os relatórios também me suscitaram reflexões quanto a minha posição ocupada na relação com os
variados agentes envolvidos no campus em questão. Por vezes, tal posição suscitou rearranjos nas interações,
especialmente em razão das minhas origens. Assim, os relatórios de aula, propostos como escritas com
intenções antropológicas, provocaram constantes reformulações subjetivas entre as participantes - tanto na
docente quanto nas discentes. O trabalho inicia colocando questões sobre a relação entre Antropologia,
escrita e aprendizagem. Posteriormente, o trabalho tece comentários em torno das articulações entre as
discentes, os relatórios de aula e eu, professora e autora do presente trabalho, pensando as implicações
disso para o aprender e o conhecer. As reflexões desenvolvidas são atravessadas pela precariedade laboral,
as condições de emprego, as necessárias atividades de cuidado e os impactos das recentes reformas oficiais
implementadas no campo da Educação no Brasil. Assim, o trabalho busca evidenciar as possibilidades da
escrita antropológica para transitar e interpelar modelos de produção acadêmica no contexto de diversidade
discente na educação superior brasileira, tentando vislumbrar futuros possíveis.