Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 057: Etnografias em contextos de violência, criminalização e encarceramento
A violência urbana no trabalho dos entregadores de aplicativos em Arcoverde (PE)
A vulnerabilidade social dos entregadores de apps tornou-se mais evidente durante a pandemia de
COVID-19. O empobrecimento e a informalização da classe que vive do trabalho e a crise econômica durante a
pandemia que não atingiu as empresas aplicativos que contratavam os entregadores ajudaram a alardear este
quadro de precarização das condições de vida nas cidades brasileiras. Nesse período, o IBGE verificou que a
maioria deles eram homens pobres, negros, jovens, com baixa escolaridade e sem vínculo formal prévio ao
ingresso nos apps (Lapa, 2020). No Nordeste a situação era pior, já que os entregadores trabalhavam mais e
recebiam menos do que a média nacional. Além disso, os clientes percebiam que eles geralmente trabalhavam
desprotegidos contra a COVID-19, mesmo que tivessem que se relacionar com estranhos durante o isolamento
social. A desumanização ocasionada pela gestão do trabalho pelos apps, sobretudo os de food delivery,
começou a ser denunciada pelos entregadores em julho de 2020, numa manifestação nacional que ficou conhecida
como Breque dos Apps, cuja principal reivindicação era que os apps garantissem melhores condições de
trabalho para quem realizava as entregas. A vulnerabilidade social dos entregadores era acompanhada pela
marginalização, pois eles eram constantemente acusados por assaltos e acidentes de trânsito e eram expostos
frequentemente como sujeitos perigosos nas grandes mídias. A maioria dos casos repercutidos aconteciam nos
bairros nobres e nos condomínios fechados. Nesses enclaves urbanos, também era comum os entregadores
denunciarem injúrias raciais, ameaças com armas de fogo e agressões físicas. Ainda durante a pandemia, em
2022, escolhi Arcoverde para pesquisá-los, por ser uma cidade de médio porte no Sertão de Pernambuco, um
tipo de campo até então ausente nos debates acadêmicos sobre os entregadores de apps. Lá pude me relacionar
com os entregadores de uma associação informal que começavam a se manifestar publicamente contra a violência
urbana e que discutiam reservadamente sobre a violência policial no município. Também presenciei a inclusão
das reivindicações deles nos debates legislativos na Câmera Municipal de Arcoverde. Conversando com
entregadores, gestores de trânsito e clientes dos apps, concluí que a discriminação social sofrida pelos
sujeitos que se tornavam entregadores em Arcoverde era um elemento indispensável para entender as recentes
articulações políticas destes trabalhadores informais, que buscavam a formalização de uma associação
profissional da categoria. Por fim, acredito poder contribuir com a temática proposta pelo GT 57, violência,
criminalização e encarceramento, ao qual encaminho este resumo, por conta dessa experiência enriquecedora e
original no campo de pesquisa.