Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 11: Disputas fundiárias em contextos de instabilidade
AJARANI: Movimentos e tensões nas fronteiras de Roraima.
Essa apresentação tem como objetivo discutir constantes tensões em fronteiras sociais estabelecidas no norte amazônico, especificamente em regiões localizadas no limite leste da Terra Indígena Yanomami (TIY) com o estado de Roraima, sobretudo no Projeto de Assentamento Agrícola Ajarani e a ocupação “Lula Livre”, localizados respectivamente nos municípios de Iracema e Mucajaí, regiões que potencializam o status de vulnerabilidade dedicado ao lugar por instituições de pesquisa e organizações sociais ligadas as referidas populações. A região assiste atualmente ao resultado de processos históricos de construções fronteiriças, orientados por diversos eventos que tensionam o nervo social, mobilizados por diversidades de experiências construídas no âmbito das relações envolvendo as categorias colonos, indígenas e fazendeiros.
Roraima encontra-se na “mira” de holofotes midiáticos, se considerarmos as tensões veiculadas entre as duas últimas grandes conjunturas políticas, governos Lula e Bolsonaro, essas mobilizadas em torno de discursos disseminadores dos conflitos envolvendo ocupações de terras e processos de extração dos recursos naturais da região em territórios indígenas, sobretudo na TIY.
A marca destas ações é observável nos limites deste território, zona rural do estado, partilhado de maneira tensa entre colonos e fazendeiros, além das constantes mobilidades de distintos grupos habitantes da TIY e pessoas ligadas, direta ou indiretamente, aos processos de intrusão nos territórios indígenas por ocasião dos movimentos em torno da mineração. Este último fato, envolve as três categorias aqui listadas, estando os colonos em número expressivo de pessoas que se mobilizam em torno da “entrada” no território indígena, fomentando a dinâmica em torno desses processos de mobilidade.
As fazendas encontram-se ocupando - geograficamente - o limite extremo da TI Yanomami com as zonas rurais descritas, proporcionando aos fazendeiros uma ocupação “privilegiada” diante das tensões produzidas no decurso dessas mobilidades. Os assentamentos agrícolas e outras ocupações de colonos na região encontram-se atualmente pressionados entre as longas faixas de terras ocupadas por fazendeiros, fator que impulsiona estes últimos a se mobilizarem sistematicamente no sentido de desarticular as movimentações de colonos e indígenas em torno da região.
Além dos arranjos em torno do “garimpo”, motor de expressivas tensões que caminham muito além do discurso disseminado em redes midiáticas, o cenário é dinamizado por conflitos de terra entre colonos e fazendeiros. O isolamento geográfico e a reduzida fiscalização na região permite à rede de fazendeiros, articulação em torno do despejo de grupos colonos nos entornos das fazendas, muitas vezes já estabelecidos em projetos de assentamento.