Trabalho para Mesa Redonda
MR 02: A Antropologia e a Década Internacional das Línguas Indígenas
Língua-espírito: ontologia da linguagem e a pesquisa das línguas ameríndias na Década Internacional das Línguas Indígenas
as línguas indígenas sempre foram prioridade das políticas administrativas do Estado desde o
empreendimento colonial. As apropriações das línguas indígenas por agentes estatais, começando pela promoção
do bilinguismo da população mestiça, passando pelas sistematizações jesuíticas e as atividades de coletas de
listas de palavras das expedições científicas, mostram como as línguas indígenas foram fundamentais para a
ocupação do território e controle das populações originárias pelas diversas Forma-Estado (colonial,
imperial, república). Mesmo com o advento da pesquisa científica das línguas indígenas no Brasil, ocorrido
bastante tardiamente em virtude da presença de agentes missionários com apresentação pública acadêmica, como
o Summer Institute of Linguistics, a agenda e o aparato teórico para tratar dos idiomas ameríndios permanece
em grande parte externa às cosmopolíticas linguísticas das próprias comunidades de falantes. Contudo, nas
últimas décadas tem ocorrido o chamado levante linguístico das línguas indígenas, que inclui projetos de
retomada e fortalecimento linguístico, a luta pela salvaguarda das línguas em risco de interrupção da
transmissão intergeracional e a proposta de renovação epistemológica através de concepções metalinguísticas
indígenas como a noção de língua-espírito. A apresentação tem como objetivo discutir o valor heurístico do
conceito de língua-espírito que vem atuando como operador ontológico do plano de ação da Década das
Línguas Indígenas no Brasil.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA