ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
Produzindo territórios festivos em São Paulo: as fraternidades folclóricas bolivianas como experiência e pertencimento
Para além das oficinas de costura e do trabalho informal (SILVA, 2002, SILVA, 2008), FREITAS, 2012), já contemplados pela literatura sobre a presença boliviana em São Paulo, o presente trabalho prossegue uma linha de pesquisa iniciada pelo autor em 2019 e em desenvolvimento atualmente em observá-la por meio das fraternidades folclóricas, conjuntos baseados, de forma inicial, em danças "típicas" do país, cujas origens remetem ao período colonial e à conformação do sujeito "cholo-mestiço" (FLORES, 2017). Os contextos de aparição desses grupos de grandes festas urbanas a pequenos encontros privados recolocam os bolivianos na experiência urbana a partir de outra condição: a de "fraternos" (ARTEAGA, 2017). Nessa mudança de perspectiva, se transforma também a forma como eles experimentam a cidade: figuram nesse pertencimento, sobretudo, espaços e temporalidades que só são consumidos por ocasião das festividades das fraternidades, e cujos impactos podem ser vistos tanto nas práticas do trabalho quanto no tempo de lazer, assim como tem efeitos materiais na constituição da cidade como um campo permanente de convivência e relações. O trabalho sustenta, em caráter embrionário e baseado na aplicação de métodos móveis (JIRON, IMILÁN, 2018, FREIRE-MEDEIROS, LAGES, 2020), que há uma outra territorialidade marcada não pela rigidez do trabalho nas oficinas ou pelo lazer em guetos étnicos, como a Praça Kantuta (IKEMURA, 2018), mas pelo movimento constante no tempo e no espaço do mapa de São Paulo. Nele, os "fraternos" se movimentam por regiões urbanas que não estariam acessíveis a eles nas outras condições em que se inserem. É por isso que as fraternidades estão na dobradura entre o mundo do trabalho e o do lazer, à medida em que são produtoras de "territórios de encontro festivo" (González 2020) que concretizam as demandas dos seus ciclos de festas. Tão relevante quanto é observar como as fraternidades, ao se moverem junto com seus protagonistas por entre as fronteiras nacionais, se tornaram instrumentos reivindicatórios, repetindo, na experiência migrante, a história recente delas na Bolívia andina da segunda metade do século XX, quando foram instrumentos reivindicatórios por novos espaços sociais e políticos, sobretudo das populações "cholo-mestiças" (TASSI, 2010).