ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Antropologia Indígena, indigenismo, antropologia: algumas questões preliminares acerca de conexões possíveis
Ao longo das últimas décadas, a antropologia tem evidenciado certa dimensão política e poética do processo de pesquisa, o que se desdobrou numa ampla reflexão sobre as especificidades contextuais significativas no processo etnográfico, as parcialidades inerentes ao saber científico e a dinâmica complexa de estabelecimento de acordos locais de pesquisa e de redes de relações com novos atores emergentes. Ao mesmo tempo, a emergência atual do conceito de Ontologia suscita um campo de reflexões e contribuições para a crítica política e epistemológica da disciplina antropológica. Nessa esteira, e buscando refletir sobre modos de relação, comunicação e ação possíveis em meio ao reconhecimento de certa incomensurabilidade entre mundos, apresento questões preliminares relacionadas a possíveis emaranhamentos, sobreposições e contradições que emergem do encontro dos campos da antropologia, do indigenismo e da antropologia indígena. Para tanto, pretendo refletir sobre minha atuação como pesquisador e servidor público da Funai junto ao povo A’uwẽ (Xavante) no leste mato-grossense. Buscarei descrever tensões, riscos e potencialidades de uma coexistência delicada inerente à posição de pesquisador-servidor, corporificada neste encontro entre estrutura institucional e engajamento pessoal; entre saberes - científicos ou não -, ação tecnopolítica e alianças cosmopolítica estabelecidas em meio à divergência. Descrevo, por um lado, a experiência como funcionário da área de gestão ambiental e territorial é cotidianamente confrontada com marcas persistentes do problemático histórico de relações entre Funai e os A’uwẽ, atravessado por projetos desenvolvimentistas e por relações assistencialistas. Por outro, aponto como é possível vislumbrar alianças entre agências estatais e os A’uwẽ que, ainda que profundamente tensionadas e sujeitas a riscos de captura, mostram-se fundamentais na luta indígena contra ameaças ao Cerrado centro-brasileiro. Articulada à está discussão, pretendo tecer reflexões a respeito de uma antropologia indígena, a partir da discussão de trabalhos e da ação cosmopolítica de antropólogas indígenas norte-americanas e brasileiras e de minha própria colaboração com antropólogos a’uwẽ. Argumento que a razão de ser deste campo está estreitamente relacionado a uma pragmática cosmopolítica - e, talvez, extra-acadêmica - fundamental para a constituição e, sobretudo, para a defesa de mundos. Pretendo, com isso, criar ressonâncias entre estes campos que permitam aventar questões sobre maneiras efetivas de extrapolar o mapeamento abstrato e conceitual de conflitos e controvérsias e de reencontrar a ação cosmoprática, assumindo posições de sujeito com responsabilidades éticas sobre regimes de existência específicos.