ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
O que é, afinal de contas, o amor?
Neste trabalho, analiso discursos emocionais de mães acerca de suas experiências de maternagem, em especial envolvendo o “amor materno”, que tem sido historicamente questionado como enquanto um sentimento instintivo e obrigatório (BADINTER, 1994), assim como tem sido problematizado também pelas interlocutoras a partir de suas experiências cotidianas. A pesquisa ocorreu, inspirada nos métodos histórias de vida (KOFES, 2001) e histórias de família (PINA CABRAL; LIMA, 2005), com cinco mulheres brasileiras, participantes de um grupo virtual de mães, centrado no compartilhamento de narrativas críticas e de dificuldades sobre o maternar. Os discursos das interlocutoras evocam emoções como solidão, culpa, arrependimento, ódio, amor e gratidão, organizados, em suas narrativas, desvelando complexos emocionais organizados não apenas a partir do gênero, mas também do parentesco. Interlocutoras do trabalho, como Maria, narraram o sofrimento vivido pelo descompasso entre as expectativas sobre a maternidade e suas “maternidades reais”, ao não sentir amor instintivo, ou “um calorzinho no peito” pelo filho, ao passo em que Carol é apontada como ingrata pelo marido, ao pedir que ele “ajude” no cuidado com a filha ao chegar do trabalho. No caso de Maria, o amor que não sentia, foi “entendido” e “construído” com o passar do tempo, a partir de um trabalho emocional (HOCHSCHILD, 2013) empenhado também por seu marido: “você cuidaria tanto desse menino se não o amasse? Então você ama sim!” Em suas experiências plurais, que questionam a noção de amor instintivo, as interlocutoras do trabalho elaboram que, de certo modo, amar é cuidar. Os discursos emocionais que expressam, indicam os impactos de suas maternidades em suas trajetórias e cotidianos, bem como as emoções são agentes ativos no processo de elaboração de suas experiências, em perspectivas com ideários como a “romantização da maternidade” e a maternidade compulsória, e na organização do cuidado. Desse modo, reforçam a compreensão das capacidades micropolíticas das emoções (BISPO; COELHO, 2019), em suas articulações com gênero, e, no caso deste trabalho, se imbricando também com a organização do parentesco.