Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 007: Antropologia Biológica e interfaces biologia e cultura: história, pesquisas atuais e perspectivas futuras
Disposições naturais e dispositivos de saber: pressupostos, processos e rendimentos de produções contemporâneas das ciências biológicas sobre gênero e sexualidade
Larissa Tanganelli (Fundação José Luiz Egydio Setúbal)
Esta comunicação tem como tema a centralidade concedida às dimensões biológicas em debates políticos e científicos contemporâneos sobre sexualidade e identidade de gênero. Nas últimas décadas, pesquisas genômicas e de outros campos das ciências biológicas têm alcançado culturalmente lugar de destaque e legitimidade para tratar da “natureza humana” e algumas de suas vertentes teórico-experimentais têm investido particularmente sobre a produção de estudos que visam explorar as “causas” ou “natureza” da sexualidade e identidade de gênero.
Ao tomar “genes” e outros índices de produção de sujeitos e corpos como hormônios, órgãos anatômicos (cérebro ou sexo) ou dimensões fisiológicas - entre outros compreendidos enquanto estruturas elementares determinantes da constituição do humano e índices de suas disposições sexuais -, a produção contemporânea das ciências biológicas entrecruza dimensões de natureza e cultura, humanidade e animalidade, gênero e sexualidade, ou seja, binômios caros às reflexões antropológicas que classicamente se debruçam sobre a articulação destas temáticas e problemáticas.
Tendo como objeto produções das últimas cinco décadas de campos diversos das ciências biológicas sobre gênero e sexualidade, esta comunicação busca identificar alguns questionamentos caros à reflexão antropológica no que se refere à universalidade e particularidade, a perspectivas deterministas ou interacionistas (ao que é tomado como dimensão biológica em relação àquela tida como cultural), a dicotomias que são reativadas ou atualizadas como dado e construído, inato e adquirido, fenômeno natural e experiência social.
Essa comunicação aposta na potencialidade da antropologia em contribuir para a reflexão dos saberes produzidos pelas ciências biológicas, levando em consideração, por exemplo, a compreensão da medida em que as evidências encontradas pelas ciências biológicas harmonizam com o que é culturalmente relevante e sancionado, e o que isto nos permite refletir sobre a “objetividade” dos dados. Esta reflexão se mostra importante uma vez que as ciências biológicas são constitutivas do pensamento moderno e ocidental e, portanto, se apresentam como um campo social e cientificamente autorizado a produzir verdades sobre o humano e algumas das suas disposições, entre as quais gênero, sexualidade, comportamentos e a natureza e naturalidade dos corpos.
A partir deste levantamento, a proposta é também considerar que os produtos discursivos destas investigações ultrapassam as esferas de produção científica e suscitam controvérsias públicas que aglutinam atores sociais heterogêneos, trazendo à tona disputas que têm lastro histórico.