Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 083: Patrimônios culturais e meio ambiente: pensando a proteção de modos de vida e territórios de povos e comunidades tradicionais
Cemitério dos Escravos como Patrimônio Quilombola: reconhecendo diversidades e seus modos de viver,
saber e relacionar.
No dia 20 de novembro de 2023 o IPHAN lançou a portaria nº135 com vistas a regulamentar o artigo 216 da
Constituição Federal, no que diz respeito aos processos de tombamento e salvaguarda do Patrimônio
Quilombola. Nesta comunicação pretendemos analisar desafios e potências deste dispositivo na garantia de
direitos dos povos e comunidades tradicionais a promoção e salvaguarda de suas histórias, memórias, seus
modos de viver, saber e se relacionar. Tomamos o patrimônio como ponto focal nas disputas em torno da
implantação de um megaprojeto de infraestrutura urbana de mobilidade proposto pelo governo do estado de
Minas Gerais a partir de acordo firmado com a mineradora Vale S.A., o Rodoanel ou Rodominério, como tem sido
nomeado por movimentos sociais da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com previsão anunciada de início
das obras ainda neste ano de 2024, o projeto coleciona ações civis públicas que denunciam a violação do
direito à consulta prévia livre informada e esclarecida aos povos e comunidades tradicionais da região, como
previsto pela Convenção 169 da OIT. O projeto é majoritariamente financiado por recursos do acordo de
reparação firmado com a Vale S.A. pelo desastre crime de Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019, com 272
mortes, somados a recursos de um leilão - este também alvo de denúncias - ocorrido em agosto de 2022. Dentre
os territórios rasgados pelo projeto do Rodominério está o Cemitério dos Escravos, localizado no município
de Santa Luzia. Território ancestral e de memória do Quilombo de Pinhões, o cemitério é patrimônio cultural
material tombado em esfera municipal (2008). Propomos, a partir de análise do dossiê de tombamento e de
apontamentos etnográficos das relações do Quilombo de Pinhões e de povos e comunidade de tradições de matriz
africana da região com o Cemitério dos Escravos, produzir reflexões sobre os modos de tombamento do
cemitério, arranjos da política de patrimônio executada no município de Santa Luzia, e, os modos, relações,
saberes, desses povos com o Cemitério e as políticas de patrimônio, elencando desafios e potencialidades da
política, sobretudo a partir da portaria supracitada, nas disputas em torno dos ditos projetos de
infraestrutura de desenvolvimento e na garantia e efetivação de direitos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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