Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 096: Sexualidade, gênero, raça e territorialidades: articulações, pertencimentos e direitos em disputa
Gênero e sexualidade nas redes sociais de lideranças religiosas cristãs: mapeando narrativas e disputas
em ano eleitoral
Nos últimos anos, questões de gênero e sexualidade se tornaram centrais nos debates que acontecem em
contextos de eleições no Brasil. Parte desse fenômeno se dá pela crescente participação de agentes
religiosos, sobretudo evangélicos e católicos, nas disputas eleitorais, assim como pelo recrudescimento dos
conservadorismos e das direitas que atuam para barrar os direitos conquistados ou a conquistar por mulheres
e pela população LGBTQIAP+. Nesse sentido, temas como ideologia de gênero e a defesa da família se tornaram
bandeiras de campanha de candidatos e candidatas aos cargos legislativos e fonte de debates e
questionamentos nas campanhas para o executivo.
As mídias, sobretudos as digitais, apropriadas de forma intensa pelos ativismos religiosos e cada vez mais
parte da vida cotidiana, se tornaram arena central onde as questões de gênero e sexualidade, a produção de
corpos e subjetivações e as políticas públicas são discursadas e disputadas, incluindo o uso de
desinformação e de violência de gênero misógina como estratégia política. A mediação do gênero e da
sexualidade pelas redes sociais acontece não apenas no período eleitoral, mas de forma contínua por meio da
atuação de lideranças religiosas e políticas que articulam o online e o off-line na tentativa de delimitar
moralidades dominantes.
Partindo de concepções da antropologia digital que consideram os entrelaçamentos entre o online e o off-line
e também a agência do design das plataformas digitais e de seus algoritmos no consumo de mídias e na
conformação dos debates públicos, este trabalho, em andamento, tem como objetivo discutir os temas e as
abordagens sobre gênero e sexualidade que circulam nas redes sociais de lideranças religiosas e políticas
cristãs em um contexto pré-eleitoral. A pesquisa parte das redes sociais de Michelle Bolsonaro figura
fundamental nas eleições de 2022, com papel crescente na política desde então como um dos nós de uma rede
que conecta outros perfis de agentes religiosos e políticos que atuam nas redes e nas ruas. Com foco no
Instagram, no Tik Tok e no Twitter, que possuem diferenças relacionadas aos tipos de mensagens propagadas e
aos públicos, a pesquisa acompanha perfis de lideranças religiosas e políticas de janeiro a junho de 2024.
Reflexões parciais indicam que a defesa da família patriarcal e heteronormativa associada a um projeto de
construção de uma nação cristã se torna tema relevante mesmo em um contexto de eleições municipais. Indica
também a construção do papel da mulher como mediadora da luta do bem contra o mal não apenas no interior das
famílias e das igrejas, mas na ocupação de espaços políticos a partir de ações que negam os feminismos ao
mesmo tempo que utilizam de forma estratégica algumas de suas bandeiras.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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