ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 096: Sexualidade, gênero, raça e territorialidades: articulações, pertencimentos e direitos em disputa
Gênero e sexualidade nas redes sociais de lideranças religiosas cristãs: mapeando narrativas e disputas em ano eleitoral
Nos últimos anos, questões de gênero e sexualidade se tornaram centrais nos debates que acontecem em contextos de eleições no Brasil. Parte desse fenômeno se dá pela crescente participação de agentes religiosos, sobretudo evangélicos e católicos, nas disputas eleitorais, assim como pelo recrudescimento dos conservadorismos e das direitas que atuam para barrar os direitos conquistados ou a conquistar por mulheres e pela população LGBTQIAP+. Nesse sentido, temas como ideologia de gênero e a defesa da família se tornaram bandeiras de campanha de candidatos e candidatas aos cargos legislativos e fonte de debates e questionamentos nas campanhas para o executivo. As mídias, sobretudos as digitais, apropriadas de forma intensa pelos ativismos religiosos e cada vez mais parte da vida cotidiana, se tornaram arena central onde as questões de gênero e sexualidade, a produção de corpos e subjetivações e as políticas públicas são discursadas e disputadas, incluindo o uso de desinformação e de violência de gênero misógina como estratégia política. A mediação do gênero e da sexualidade pelas redes sociais acontece não apenas no período eleitoral, mas de forma contínua por meio da atuação de lideranças religiosas e políticas que articulam o online e o off-line na tentativa de delimitar moralidades dominantes. Partindo de concepções da antropologia digital que consideram os entrelaçamentos entre o online e o off-line e também a agência do design das plataformas digitais e de seus algoritmos no consumo de mídias e na conformação dos debates públicos, este trabalho, em andamento, tem como objetivo discutir os temas e as abordagens sobre gênero e sexualidade que circulam nas redes sociais de lideranças religiosas e políticas cristãs em um contexto pré-eleitoral. A pesquisa parte das redes sociais de Michelle Bolsonaro – figura fundamental nas eleições de 2022, com papel crescente na política desde então – como um dos nós de uma rede que conecta outros perfis de agentes religiosos e políticos que atuam nas redes e nas ruas. Com foco no Instagram, no Tik Tok e no Twitter, que possuem diferenças relacionadas aos tipos de mensagens propagadas e aos públicos, a pesquisa acompanha perfis de lideranças religiosas e políticas de janeiro a junho de 2024. Reflexões parciais indicam que a defesa da família patriarcal e heteronormativa associada a um projeto de construção de uma nação cristã se torna tema relevante mesmo em um contexto de eleições municipais. Indica também a construção do papel da mulher como mediadora da luta do bem contra o mal não apenas no interior das famílias e das igrejas, mas na ocupação de espaços políticos a partir de ações que negam os feminismos ao mesmo tempo que utilizam de forma estratégica algumas de suas bandeiras.