Trabalho para Mesa Redonda
MR 40: Memórias ambíguas: processos e narrativas de desestabilização de políticas de reconhecimento e preservação
Relatos de memórias nos documentários biográficos sobre a ditadura militar
Essa proposta pretende analisar os documentários biográficos sobre a ditadura militar brasileira para
compreender as ambiguidades dos processos narrativos e memorialistas na contemporaneidade. As situações
traumáticas geram transformações importantes nas formas de representação nas artes em geral, e,
particularmente no cinema, devido ao seu papel fundamental como testemunho, participando da construção do
conhecimento, da visibilidade do subjetivo e das articulações na dimensão do político. Os documentários
evocam personagens cuja existência é legitimada pela história; sua forma é híbrida por excelência e transita
entre o filme político, o filme testemunho, o filme de família, o filme diário, o filme reportagem, o filme
histórico e, também, o filme militante. Documentários como Retratos de Identificação (Anita Leandro, 2014) e
Fico te devendo uma carta sobre o Brasil (Carol Benjamin, 2020) têm imagens agenciadas de distintas formas
por meio da justaposição e da correlação de materiais heterogêneos, como imagens de arquivo, retratos,
cartas e testemunhos propondo uma discussão entre imagens do passado e do presente com o intuito de revelar
a violência social. Contemplam, ainda, um esforço memorialístico pelo uso de diferentes níveis de narração,
o individual e o político, criando uma tensão permanente entre a imagem e a subjetividade, entre o percebido
e o memorável, propondo assim, uma ressignificação do filme político. Os registros serão analisados a partir
de três aspectos: os relatos narrativos que revelam as articulações políticas, as ambiguidades e a
subjetividade do sujeito; a elaboração desses registros em termos imagéticos (montagem, enquadramento,
escolhas estéticas); o entendimento do conflito sobre o político que infere no processo memorialista. A
experiência narrativa fílmica biográfica torna-se, assim, o lugar, onde a consciência devastada pela
violência, faz com que o filme político considere a subjetividade como parte fundamental da sua estrutura na
atualidade. Nesse sentido, analisar os documentários a partir das estratégias estéticas diferenciadas, nos
levam a uma reflexão sobre a dor física e social que deixou suas consequências na elaboração da memória
diante da iminência do autoritarismo quando o golpe militar faz sessenta anos.