Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 040: Culturas populares e os usos da tradição
A tradição tencionada e o retorno à autenticidade: a produção de narrativas sobre o processo de patrimonialização do Carimbó no Pará e seus desdobramentos após 10 anos do registro
Manifestação cultural pertencente ao hall dos ícones constituidores da cultura paraense, e registrada com patrimônio imaterial do Brasil em 2014, o Carimbó passou por um processo intenso de revalidação no que concerne a sua condição de expressão da cultura local de forte apelo popular. Ao longo de seu processo de inventário, sendo este, parte das etapas do registro feito pelo IPHAN, não foram poucos os argumentos e contra-argumentos sobre sua origem étnica que acabaram por tencionar o que até então supostamente estava pacificado: o Carimbó, observado a partir da sua base rítmica, de poesia e dança seria o resultado da junção de negros, índios e europeus, conforme informavam aqueles que se debruçaram em estuda-lo desde o final do século XIX. Ao mesmo tempo, passou a fazer parte do cotidiano dos fazedores e fazedoras de Carimbó, outra narrativa sobre os processos identitários que estavam em jogo diante o seu processo de patrimonialização e registro. A mobilização surgida por agentes produtores e ativistas culturais, ensejou uma nova forma de apropriação sobre os saberes e fazeres dos detentores mestres e mestras daquela manifestação cultural, dinamizado agora, pelo campo da política que, conforme se observou, estabeleceu um campo de tensões em torno das ideias de tradição e autenticidade forjados, sobretudo, sobre a ideia da perda (GONÇALVES, 1996). Com isso, se estabeleceu um cenário que perdura até os dias atuais onde os agentes estão dispostos em seus diferentes campos de atuação agindo conforme a demanda pública, midiática e estatal. Assim, esta comunicação se debruça em analisar esse movimento que, ao tempo em que faz ressurgir antigos debates sobre tradição e autenticidade, permite observar como o agente público de fomento e preservação da cultura institui uma nova norma que passa a regular a ação social dos conjuntos e demais agentes envolvidos no Carimbó. Busca-se, portanto, debater como os processos de registro de bens culturais no Brasil influenciam na formação e instituição de outras narrativas sobre o patrimônio imaterial, neste caso, o amazônico.