ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
Provocações e caminhos entre mundos: a emergência da cena de arte indígena contemporânea no Brasil
Este trabalho apresenta algumas reflexões desenvolvidas na tese ARTE, TERRA INDÍGENA. Caminhos e relações da arte indígena contemporânea entre mundos, defendida em 2021, que acompanhou desde 2015 a crescente presença de artistas indígenas do Brasil no mundo da arte contemporânea na segunda década do século XXI. Transitando entre mundos ontologicamente diversos e habitando zonas de contato, suas criações são marcadas pela reverência e reinvenção das cosmologias e estéticas de suas culturas de origem, articuladas com técnicas e linguagens da arte contemporânea. Por meio de uma etnografia multissituada realizada com artistas e curadores em exposições e eventos culturais, discutimos elaborações conceituais, escolhas estéticas, temáticas e trajetórias de vida que configuram um panorama amplo deste território partilhado. A análise de obras de arte e discursos de artistas, permite enxergar estratégias de inserção, subversão, apropriação, colaboração e criação de novos espaços e circuitos de arte. A partir destas criações e processos, destacam-se certos temas, práticas e gestos que podem servir como chave de entendimento deste fenômeno recente, permitindo aproximar alguns trabalhos de artistas e buscar chaves de interpretação que emergem das próprias poéticas analisadas. Assim, nos deparamos com obras-pensamentos que apresentam tradições e inovações por meio da experimentação com grafismo, figuração, técnica e suporte; que constroem um “Corpo-terra por meio de performances na confluência arte e vida; que tensionam zonas de contato trabalhando identidade, violência, memória e contemporaneidade; que exploram mitologia, cosmologia, espiritualidade, ancestralidade e naturezas; que se colocam declaradamente como ativismo e buscam uma prática relacional; que se posicionam na História da Arte, seja buscando um lugar ou criando outras histórias a partir deste movimento coletivo de inserção, confrontação e criação. Percebemos que a arte contemporânea tem buscado nos universos indígenas inspiração para repensar o mundo e a sociedade, os efeitos do colonialismo, do capitalismo, do antropoceno e a fronteira entre arte e vida, embora não deixe de reproduzir práticas de expropriação e exotização do "outro". Os artistas indígenas buscam valorizar sua identidade e memória, ocupar espaços de visibilidade e representatividade, criando suas próprias narrativas e provocando transformações no mundo da arte. Fortemente política, a arte contemporânea feita por estes artistas é eminentemente relacional e atua no mundo materializando e mediando redes complexas de relações com o cosmos, os seres não-humanos e com os não-indígenas, abrindo caminhos para outros mundos possíveis.