Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
O equilíbrio biológico da família-plantation: monoculturas de gênero e relacionalidades promíscuas
Em nossos estudos, somos ensinados a respeitar as cercas disciplinares que separam o amontoado de pormenores que pesquisamos em domínios muito bem estabelecidos. É dessa divisão domesticada dos objetos de estudo que potentes diálogos entre estudos urbanos e a biologia, por exemplo, raramente são feitos. Parte-se de uma ideia de cidade erguida no empilhamento de substâncias inorgânicas - concreto armado, cimento, estruturas de aço e algumas substâncias orgânicas há muito ausentes de vida asfalto, alvenaria, hidrocarbonetos de forma geral. Esquece-se que as cidades são empreendimentos, por assim dizer, multiespécie. Esquecem-se também dos ossos e carnes de corpos negros concretados nas construções.
Neste estudo, fazemos usos de alguns conceitos que vem sendo trabalhados por estudos antropológicos inspirados na biologia para mirar a política habitacional brasileira sob outros prismas. Será feita uma análise mais aprofundada do que chamamos anteriormente de família-plantation (BELISÁRIO, 2023) e da intenção de inscrever territorialmente nos desenhos das cidades monoculturas unifamiliares restringindo o conceito de família ao de reprodução biológica de recursos humanos. Como veremos, há intenções na concepção dessas políticas de normatização do gênero e da sexualidade para não contaminar a lavoura com a promiscuidade e a ausência de família.
Com isso, pretendemos seguir o exemplo de tantas outras estudiosas e pular outra cerca: a que separa os debates afeitos ao Antropoceno das questões raciais e de gênero. Buscando uma ecologia queer decolonial, pretendemos ecoar as irrupções que corpos rebeldes e não domesticados experimentam tecendo outros mundos não prescritos por urbanistas ou biólogos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA