Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 088: Processos e histórias transfronteiriças de coletividades em movimento - Os desafios da mobilidade indígena na atualidade..
Indígenas em deslocamento institucional e a (des)articulação das redes de proteção de direitos sociais
no estado do Amazonas Brasil.
Segundo os dados Censo Demográfico 2022, o estado do Amazonas possui o maior contingente populacional
indígena do Brasil, com mais de 490 mil indígenas, correspondendo à cerca de 28,98% da população indígena do
país. Destes, cerca de 71 mil vivem na cidade de Manaus que, assim, abarca a maior concentração populacional
de indígenas por município. Manaus concentra, também, quase 50% da população do estado do Amazonas, com mais
de 2.000.000 de habitantes.
Essa concentração populacional também se manifesta em uma alta concentração de equipamentos sociais,
educacionais e de saúde, que relega grande parte do interior do estado do Amazonas à uma dependência
institucional frente à capital. É em Manaus que se encontram, por exemplo, as unidades de saúde de média e
alta complexidade; os campi universitários com maior oferta formativa para os estudantes; os equipamentos de
cumprimento de medidas socioeducativas, o aeroporto com saída para outros estados e países, entre outros.
Atrelado a essa concentração há uma densa mobilidade de coisas e pessoas, incluso aí os indígenas.
Neste trabalho, pretendo refletir acerca dos deslocamentos de indígenas, mediados/realizados por
instituições, sejam elas governamentais ou não, e como as redes de proteção, promoção e garantia de direitos
sociais e de cidadania são articuladas e/ou se articulam (ou não) para o atendimento e suporte à estes
indígenas. Para tanto irei utilizar, para análise, de dois casos que considero emblemáticos e que
reverberaram essa (des)articulação interinstitucional. São eles: i) O caso do indígena Tadeo Kulina (da
etnia madija kulina), residente em Envira-AM, na fronteira com o estado Acre, brutalmente assassinado
enquanto acompanhava sua esposa em uma maternidade da cidade de Manaus, com deslocamento realizado pela
Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas e; ii) o dos jovens indígenas da região do Alto Rio Negro que,
residentes em São Gabriel da Cachoeira, foram deslocados institucionalmente pela Associação Solidária
Humanitária do Amazonas ASHAM que, sob comando de missionários islâmicos turco, mantinham os indígenas em
condições precárias e em regime de internato religioso na cidade de Manaus, com o argumento de facilitação
do acesso à educação e à formação profissional.