ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 088: Processos e histórias transfronteiriças de coletividades em movimento - Os desafios da mobilidade indígena na atualidade..
Indígenas em deslocamento institucional e a (des)articulação das redes de proteção de direitos sociais no estado do Amazonas – Brasil.
Segundo os dados Censo Demográfico 2022, o estado do Amazonas possui o maior contingente populacional indígena do Brasil, com mais de 490 mil indígenas, correspondendo à cerca de 28,98% da população indígena do país. Destes, cerca de 71 mil vivem na cidade de Manaus que, assim, abarca a maior concentração populacional de indígenas por município. Manaus concentra, também, quase 50% da população do estado do Amazonas, com mais de 2.000.000 de habitantes. Essa concentração populacional também se manifesta em uma alta concentração de equipamentos sociais, educacionais e de saúde, que relega grande parte do interior do estado do Amazonas à uma dependência institucional frente à capital. É em Manaus que se encontram, por exemplo, as unidades de saúde de média e alta complexidade; os campi universitários com maior oferta formativa para os estudantes; os equipamentos de cumprimento de medidas socioeducativas, o aeroporto com saída para outros estados e países, entre outros. Atrelado a essa concentração há uma densa mobilidade de coisas e pessoas, incluso aí os indígenas. Neste trabalho, pretendo refletir acerca dos deslocamentos de indígenas, mediados/realizados por instituições, sejam elas governamentais ou não, e como as redes de proteção, promoção e garantia de direitos sociais e de cidadania são articuladas e/ou se articulam (ou não) para o atendimento e suporte à estes indígenas. Para tanto irei utilizar, para análise, de dois casos que considero emblemáticos e que reverberaram essa (des)articulação interinstitucional. São eles: i) O caso do indígena Tadeo Kulina (da etnia madija kulina), residente em Envira-AM, na fronteira com o estado Acre, brutalmente assassinado enquanto acompanhava sua esposa em uma maternidade da cidade de Manaus, com deslocamento realizado pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas e; ii) o dos jovens indígenas da região do Alto Rio Negro que, residentes em São Gabriel da Cachoeira, foram deslocados institucionalmente pela Associação Solidária Humanitária do Amazonas – ASHAM que, sob comando de missionários islâmicos turco, mantinham os indígenas em condições precárias e em regime de internato religioso na cidade de Manaus, com o argumento de facilitação do acesso à educação e à formação profissional.