ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Copylefts no contexto brasileiro: Manipulações hormonais inventivas de gênero e relações (extra) médicas
Paul Preciado (2018) afirma que após a Segunda Guerra Mundial explicita-se um processo no qual o governo biomolecular (fármaco-) e semiótico-técnico (-porno) tomam conta expressivamente do sistema capitalista. Isso se materializa, em um diálogo foucaultiano, nos campos da psicologia, da sexologia e da endocrinologia. O uso sintético dos hormônios seria um exemplo desse fenômeno. Preciado (2022) argumenta que esse uso é controlado e endereçado para o controle de certos grupos da população. Por sua vez, o termo Copyleft (Preciado, 2018), em contraponto com a palavra copyright, determina aqueles e aquelas que acreditam que os hormônios utilizados para as chamadas transições de gênero não deveriam estar sob controle das indústrias farmacêuticas, nem sob regimento do governo. Minha apresentação pretende refletir sobre vivências próximas dessa caracterização no contexto brasileiro, abordando pessoas que se hormonizam de forma caseira ou independente devido a diferentes fatores, mas, de todo modo, escapando das recomendações do regulamento médico e da diligência do Estado. Entretanto, meu argumento é que, cercadas e cercados pela precarização, medo e preconceito, essas experiências não se encaixam completamente na teoria-prática de Preciado. O objetivo do trabalho é exercitar um olhar cuidadoso para quem, por algum motivo, percorre trajetórias de manuseio hormonal inventivas de gênero fora de qualquer um dos acompanhamentos médicos estabelecidos idealmente pela legislação brasileira ou recomendações feitas por manuais de saúde. Parte-se, então, da investigação acerca da relação entre o convívio com/consumo das tecnologias de gênero (De Lauretis, 1987), dos processos de autonomia vinculadas ao sujeito e do uso dos medicamentos de gênero, termo cunhado por Débora Diniz e Rosana Castro (2011). Elaboro, assim, com base na produção de Jane Russo e Ana Teresa A. Venâncio (2006), uma pequena discussão acerca das diretrizes médicas como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Com uma análise inspirada em autores como Foucault (1985), Preciado (2018), De Lauretis (1987) e Butler (2018), essa pesquisa se baseia em dois estudos de caso com pessoas que consumiram ou consomem hormônios sexuais dentro do perfil caracterizado anteriormente, vivência a qual este trabalho designa como autônoma, mas que também compreende como a criação/fissura de diversas relações entre indivíduos e instituições.