Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Copylefts no contexto brasileiro: Manipulações hormonais inventivas de gênero e relações (extra) médicas
Paul Preciado (2018) afirma que após a Segunda Guerra Mundial explicita-se um processo no qual o governo
biomolecular (fármaco-) e semiótico-técnico (-porno) tomam conta expressivamente do sistema capitalista.
Isso se materializa, em um diálogo foucaultiano, nos campos da psicologia, da sexologia e da endocrinologia.
O uso sintético dos hormônios seria um exemplo desse fenômeno. Preciado (2022) argumenta que esse uso é
controlado e endereçado para o controle de certos grupos da população.
Por sua vez, o termo Copyleft (Preciado, 2018), em contraponto com a palavra copyright, determina aqueles e
aquelas que acreditam que os hormônios utilizados para as chamadas transições de gênero não deveriam estar
sob controle das indústrias farmacêuticas, nem sob regimento do governo. Minha apresentação pretende
refletir sobre vivências próximas dessa caracterização no contexto brasileiro, abordando pessoas que se
hormonizam de forma caseira ou independente devido a diferentes fatores, mas, de todo modo, escapando das
recomendações do regulamento médico e da diligência do Estado. Entretanto, meu argumento é que, cercadas e
cercados pela precarização, medo e preconceito, essas experiências não se encaixam completamente na
teoria-prática de Preciado.
O objetivo do trabalho é exercitar um olhar cuidadoso para quem, por algum motivo, percorre trajetórias de
manuseio hormonal inventivas de gênero fora de qualquer um dos acompanhamentos médicos estabelecidos
idealmente pela legislação brasileira ou recomendações feitas por manuais de saúde. Parte-se, então, da
investigação acerca da relação entre o convívio com/consumo das tecnologias de gênero (De Lauretis, 1987),
dos processos de autonomia vinculadas ao sujeito e do uso dos medicamentos de gênero, termo cunhado por
Débora Diniz e Rosana Castro (2011). Elaboro, assim, com base na produção de Jane Russo e Ana Teresa A.
Venâncio (2006), uma pequena discussão acerca das diretrizes médicas como o DSM (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders). Com uma análise inspirada em autores como Foucault (1985), Preciado (2018), De
Lauretis (1987) e Butler (2018), essa pesquisa se baseia em dois estudos de caso com pessoas que consumiram
ou consomem hormônios sexuais dentro do perfil caracterizado anteriormente, vivência a qual este trabalho
designa como autônoma, mas que também compreende como a criação/fissura de diversas relações entre
indivíduos e instituições.