ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Controvérsias político-científicas da cannabis medicinal: canabinoides e a canabização do humano
A proposta deste trabalho é a de apresentar uma análise da conformação do campo científico-medicinal da cannabis de modo a enfatizar o modo como a lógica de investigação científica e de formulação dos objetos científicos de substâncias presentes na planta (canabinoides) promoveram não só um processo de medicalização da cannabis mas também uma reorientação cognitivo-ontológica e moral de nossas relações com a planta (o que estou chamando de canabização do humano). Para tal proponho uma reflexão que identifica os eixos cognitivos que os atores mobilizam no debate público científico sobre ou a partir da maconha/cannabis, tentando delinear os principais pontos de uma controvérsia que se instaura a partir da publicação do Decálogo sobre a Maconha”, documento/manifesto conjunto da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), e da principal resposta a este Decálogo, realizada pela Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC). Lastreada pela proposta de análise de controvérsias científicas, e utilizando uma metodologia de análise documental, a análise busca demonstrar que há uma posição heurística divergente que está correlacionada a tomadas de posição políticas e cognitivas dissímiles, lastreadas pela emergência de um paradigma marcado pelas noções de (endo)canabinoides e de sistema endocanabinoide, além de outros conceitos correlatos. A lógica de construção desse paradigma e de conformação do campo científico-medicinal da cannabis promove uma reorientação cognitiva-ontológica e moral de nossas relações com a planta ao entronizar cognitivamente os canabinoides no corpo humano e vinculá-los ao funcionamento normal, regular, dos processos fisiológicos que nos constituem corporalmente. Proponho chamar tal processo de canabização do humano. Essa entronização dos canabinoides promove uma redução da eficácia simbólica e do pânico moral associado ao paradigma proibicionista. Trata-se de um estudo exploratório com foco na controvérsia acima mencionada e em sua correspondência cognitiva em torno do paradigma canabinoide.