Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
A crônica como recurso para o ensino e a escrita em antropologia
A crônica é um gênero literário que possibilita infinitas experimentações, mas que se caracteriza
sobretudo pela sua brevidade, por ser um texto curto a ser publicado em diversas mídias jornais, revistas,
redes sociais digitais, newsletters e outras. Além disso, flerta com o cotidiano e o relato dele. O que não
significa se tratar de um gênero não ficcional, apesar de colocar em questionamento as divisas entre o real
e a ficção. Pela sua possibilidade experimentadora e o seu manuseio em sala de aula como texto curto que
pode ser lido e praticado durante os períodos letivos, passei a utilizar a crônica enquanto recurso para a
aprendizagem da antropologia, tanto de seu aspecto conceitual, suas preocupações e pretensões científicas,
quanto como instrumento para despertar na comunidade discente a criatividade e a escrita antropológica. Essa
comunicação reflete esse uso junto a discentes de licenciaturas em Ciências Sociais e História (com a
disciplina de Antropologia da Educação), também fazendo parte do projeto de pesquisa Crônica antropológica e
sociológica: a imaginação e o escrever nas ciências sociais", cadastrado na Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação PROP da Universidade Estadual do Piauí UESPI. A pesquisa dialoga com a argumentação de Tim
Ingold de que a antropologia pode ser pensada como educação, ao mesmo tempo que se aproxima do
amadurecimento da antropologia da educação no Brasil, com a proliferação de grupos de pesquisa e trabalho,
relatos de ensino, desenvolvimentos de trilhas de aprendizagem e outros procedimentos. Juntando a literatura
especializada com a prática do projeto, propomos que Conceição Evaristo, com a sua elaboração da
escrevivência, Pedro Demo com a tentativa de instigar discentes enquanto pessoas autoras, bell hooks com a
quebra da frieza da sala de aula para a construção de uma educação transgressora, além de Wright Mills com o
artesanato intelectual e a imaginação sociológica, estão trazendo resultados para o ensino e a prática da
antropologia, que se ainda não é possível palpar em sua totalidade, já nos instiga a continuar na proposta
de uma educação que instigue mais a criação do que a reprodução e a colonização de nossas sensibilidades.
Parte considerável de discentes das licenciaturas em foco é de pessoas atravessadas por marcadores sociais
que, pela colonialidade ainda dominante e editorial, podem ser colocadas em um lugar de não-autoria: de suas
vidas, de seus textos. Dessa forma, essa comunicação vai apresentar os desdobramentos do projeto que tenta
instigar a multiplicidade autorial, focado nas disciplinas ministradas na UESPI e em uma oficina de crônica
antropológica realizada na mesma instituição, dentro da programação do III Seminário Didático Pedagógico do
Centro de Ciências Humanas e Letras.