ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Diálogos interescolares - troca de cartas como proposta de interculturalidade em salas de aula do Ensino Médio
O trabalho apresenta pesquisa sobre troca de cartas entre estudantes indígenas do Mato Grosso (MT) e estudantes não indígenas do Distrito Federal (DF). Realizei a pesquisa em turmas de ensino médio no DF onde era também professora. Foram analisadas duas experiências, a primeira entre estudantes do Ensino Médio (EM) de escola da rede pública localizada na região administrativa de Taguatinga (DF) e estudantes indígenas da etnia Mehinako também do EM de escola no Território Indígena do Xingu. Já na segunda experiência, estudantes indígenas do EM de duas escolas da mesma região, uma em aldeia da etnia Mehinako e outra Yawalapiti, trocaram correspondências com estudantes de Samambaia (DF). Quando observo as trocas de cartas aqui apresentadas, concordo com as professoras Meritxell Simon-Martin, Ana Tereza Reis da Silva e Gloria Jové-Monclús ao tratar sobre o intercâmbio epistolar que realizaram, quando consideram que a experiência não chega a alcançar o conjunto das dimensões nem a profundidade da interculturalidade crítica como caracterizada por Catherine Walsh (2012), mas que tem o potencial pedagógico para interculturalizar e decolonizar universidades ocidentalizadas (Simon-Martin et al., 2022). Esse é um objetivo aqui compartilhado pelo trabalho que foi observado: o de interculturalizar e de decolonizar o conhecimento produzido, mesmo sabendo das limitações do exercício da troca de cartas em um sistema escolar que tradicionalmente exclui a pluralidade étnica e desumaniza saberes e corpos que não estão a serviço da colonialidade de poder/ser/saber tal como o termo é trabalhado por Aníbal Quijano (2005). Dessa forma, o diálogo por meio das cartas não é entendido como ponto de chegada, já que se entende que a atividade por si só não é suficiente para enfrentar e abalar essa estrutura colonial-racial. Apesar das limitações, nos relatos de estudantes que participaram, foi destacado como as cartas tinham apelo afetivo e eram capazes de transportar cenas do mundo cultural, cotidiano e sentimental. Não se trata de romantizar as relações e não situar as diferenças hierárquicas entre os polos de diálogos, isso deve ser pontuado e discutido ao longo das atividades. O que defende-se é que, enquanto instrumento pedagógico, as cartas podem de alguma forma questionar a hegemonia da razão. O processo de corazonar (Arias, 2010) epistemologias dominantes contribui para a construção de outros sentidos da existência e de outra proposta acadêmica e epistêmica. Segundo Patricio Guerrero Arias (2010), as sabedorias insurgentes nos ensinam a não negar a afetividade nos conhecimentos, já que essa negação é entendida por ele como uma das formas mais perversas de colonialidade do poder.