ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
Nós nos vendemos, mas não estamos à venda: transformações técnicas, formas de aprendizagem e relações de trabalho na prática da tatuagem comercial no Distrito Federal
Este resumo é resultado de uma investigação em curso a respeito de transformações que têm se dado na cultura material da tatuagem comercial brasileira essas transformações, podemos imaginar, não se dão descoladas de um contexto mais amplo, situações análogas com certeza podem ser observadas em diversos outros países e localidades. Os apontamentos aqui feitos, ainda muito gestuais com caráter de esboço, são resultado de uma etnografia em curso e de um engajamento em campo de 9 meses; a partir de interlocuções com tatuadores, suppliers, e construtores de máquinas de tatuar. Nos últimos meses temos concentrado a atenção na oficina do Carlos Marcelo Jabá, em Samambaia Sul, no Distrito Federal. O Jabá é um sujeito bastante relevante e respeitado na cena da tatuagem no Brasil, atuando nesse campo desde os anos 80. Ele se dedica à construção de máquinas de tatuar handmade há quase 20 anos. Bem, a prática da tatuagem comercial como conhecemos hoje, está intimamente ligada à maquinização desse mesmo processo. Um ofício técnico que era costumeiramente executado sem o uso de máquinas, ou seja, com agulhas propulsionadas apenas pela força do corpo e percutidas sobre outro corpo se viu consideravelmente revolucionado com a primeira patente de máquina elétrica. Desde meados dos século XX, as máquinas elétricas de tatuagem têm sido replicadas em larga escala: primeiro por tatuadores e construtores artesanais (que eram tanto projetistas quanto usuários dessas máquinas), depois por grandes empresas que nasceram e se estabeleceram nesse meio. Além disso, desde o final dos anos 90 proliferaram-se novos tipos diversos tipos de máquinas de tatuagem (alternativos à máquina elétrica, ou de bobina objeto técnico dominante até então), que com maior ou menor sucesso, encontraram seu lugar e uso pelos trabalhadores do mercado de tatuagem comercial. O esforço etnográfico aqui empreendido busca, a partir de descrições densas dos processos técnicos auxiliados muito provavelmente de materiais audiovisuais que temos produzido até aqui dedicar atenção à compreensão das ações e do comportamento operatório envolvidos na construção de máquinas de tatuar (e de certa forma, de maneira acessória e comparativa, à própria prática de tatuar que é articulada por esses objetos). Partindo-se do arcabouço conceitual e metodológico da Antropologia da Técnica, e da relação dos atores presentes nessa rede sociotécnica povoada por humanos e objetos, pensamos poder projetar alguma luz sobre algumas questões: Que novas formas gestuais aparecem com as transformações nas máquinas de tatuagem? Que tipo de curvas e processos de aprendizagem elas engendram? Como essas dinâmicas transbordam em transformações nas formas de trabalho e nas relações econômicas entre atores do campo?