Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 055: Etnografias de processos de resistência de povos indígenas em Estados e governos de exceção
Estratégias de resistência terena em uma conjuntura da política indigenista da ditadura civil-militar
Apoiado em informações captadas em obras científicas, reportagens e em arquivos públicos, investigamos
aqui os chamados Projetos de Desenvolvimento Comunitário que a Fundação Nacional do Índio (Funai) empreendeu
nas reservas do povo Terena em fins dos anos 1970 e no quinquênio posterior, inserindo a agricultura
mecanizada nas aldeias. Analisamos as expectativas, interesses e estratégias dos indígenas que aderiram à
essa proposta e dos agentes públicos que a conceberam e lideraram sua execução. Os resultados alcançados (ou
não) e a avaliação de membros da referida etnia sobre o desempenho dessas ações são por nós observados.
Conclui-se que o compromisso do governo de garantir a autossuficiência das comunidades através de tais
planos não se cumpriu nem mesmo em curto prazo. Por trás dessa promessa havia a intenção ardilosa do Estado
em revogar a tutela legal dos indígenas, retirar-lhes a assistência continuada e suprimir direitos
territoriais. Os tais projetos não valorizaram as tradições de plantio dos Terena, que tiveram que se render
a novas rotinas e disciplinas, não sem contestação. Após um curto período de expansão, as atividades
sucumbiram por retardo e diminuição no repasse de insumos e verbas. Em paralelo, a Funai deixou de proceder
a ampliação dos limites das áreas indígenas reivindicada pelas comunidades. Por consequência, a dependência
econômica e a insegurança alimentar se agravaram, resultando na intensificação das migrações para as cidades
e do engajamento dos trabalhadores locais em empreitadas em fazendas e destilarias da região do Pantanal
sul-mato-grossense. Danos ambientais de difícil reversão foram deflagrados nas áreas indígenas devido,
dentre outros fatores, ao desmatamento, ao uso contínuo do maquinário e o desrespeito da necessidade de
pousio do solo. No entanto, os Terena não deixaram de ativar a todo momento suas estratégias políticas ora
mais diplomáticas, ora abertamente combativas - de resistência à dominação que o Estado buscava impingir a
eles. E, pelo menos em parte, foram bem-sucedidos. A própria agricultura tradicional de subsistência não
deixou de ser praticada por todos os integrantes do grupo, embora as condições fossem limitadas. No período
da redemocratização do país, como consequência da organização do movimento indígena nacional e como reação
ao confinamento socioespacial ao qual foram relegados, os Terena intensificaram a luta coletiva pela
recuperação do controle de seus territórios ancestrais, encarando até hoje intrincados embates com o poder
público e com a elite agrária de Mato Grosso do Sul.
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