Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 104: Visualidades Indígenas
Imagens Indígenas. Fotografia e sua instabilidade.
Em um artigo sobre a instabilidade das imagens, Maurício Lissovsky (2009) argumenta que os arquivos
deveriam ser pensados a partir de cinco dimensões que caracterizam suas propriedades dinâmicas. As quatro
primeiras estão relacionadas com sua história e dinâmica institucional, e a quinta ele chamou de poética.
Procuro, com este texto, ativar as propriedades dinâmicas das imagens do arquivo fotográfico do antropólogo
mexicano Julio de la Fuente e, por meio de um olhar atento, buscar as tramas em que essas fotografias podem
se envolver quando não estamos olhando para elas, a partir das memórias e sensações provocadas por outro
trabalho fotográfico, este realizado pela fotógrafa indígena yalalteca Citlali Fabián.
O que teriam a dizer esses dois conjuntos de imagens convidadas a um diálogo entre si? Essa pergunta busca
criar novas perspectivas frente a pesquisa inicial (Petroni, 2008) que privilegiou um olhar sobre as
fotografias de Julio de la Fuente como um artefato cultural de representação, onde seus aspectos icônicos me
remeteram a uma reflexão sobre seu referente. Trata-se, agora, de compreender as imagens como produtos de
relações, entre pessoas, entre imagens e entre ambos.
Assim busco uma antropologia da imagem vivente, na qual o rearranjo das fotografias feitas de Yalálag e dos
yalaltecas me possibilite evidenciar relações possíveis sem perder de vista a memória das imagens. Trata-se
aqui de olhar para essas fotografias não apenas como campos de memória, como arquivos vivos e lugares de
desejo, mas ainda, como um terreno de questões, de questionamentos (Samain, 2014, p.52) sobre como
observamos aos povos indígenas.
São as constelações de imagens de Yalálag e dos zapotecos que podem abrir novos caminhos de pensamento. As
relações colocadas em evidência devem potencializar o que está à margem, o rastro e seus indícios
independemente da possibilidade de se inventariar, classificar, criar organizações definitivas, catálogos
exaustivos para repertórios que resistem a serem submetidos a esses processos (Cunha, 2016, p.249).