Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 061: Formas da restituição: coleções científicas, reparação e a longa jornada de volta.
Restituição, memória e a agência dos objetos no Mayombe (RDC)
Pedidos de restituição de artefatos africanos localizados em acervos de museus norte-americanos e
europeus por parte de governos, instituições e coletivos têm se tornado cada vez mais visibilizados nos
últimos anos. São frutos também de um novo contexto de críticas pós-coloniais e decoloniais, que motivaram
questionamentos ao monopólio dos museus etnográficos constituídos nos séculos XIX e XX, sobre objetos,
arquivos e narrativas a respeito de culturas não ocidentais. Debates e demandas sobre o direito ao
patrimônio africano têm provocado acenos recentes de museus europeus, como, por exemplo, a confirmação do
British Museum a respeito do retorno dos bronzes do Benin à atual Nigéria. Ao mesmo tempo, é importante
compreender como essas questões se apresentam localmente, indicando outras camadas para se refletir sobre o
retorno de objetos aos territórios africanos.
A estatuária oriunda da região transfronteiriça do Mayombe é uma das mais valorizadas da África Central,
como os chamados minkisi nkondi, e faz parte dos acervos de grandes museus etnográficos. Baseado em dados
reunidos em uma pesquisa etnográfica de longa duração, este trabalho analisa as histórias, memórias e
suspeições que objetos de acervos museológicos atualmente evocam em vilarejos Yoómbe. O trabalho articulará
três frentes: 1. Fará um balanço das discussões contemporâneas sobre a restituição e o direito ao patrimônio
em África; 2. Identificará os diferentes tipos de objetos do Mayombe nos grandes museus etnográficos,
refletindo como são categorizados e apresentados; 3. Discutirá os relatos dos Yoómbe a respeito destes
objetos. A hipótese sugerida é que, no Mayombe, estes objetos consistem em materialidades fisicamente
ausentes, mas que se fazem presentes enquanto memória, tendo efeito nas práticas cotidianas e nas
moralidades relativas ao dinheiro. O trabalho visa contribuir para a antropologia dos museus, refletindo
sobre as possibilidades, como também as dificuldades, a respeito do retorno e das práticas etnográficas
colaborativas.
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