ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 018: Antropologia dos venenos
Entre venenos e remédios: sentidos xucuru-kariri acerca da cachaça
Alguns povos indígenas no Nordeste do Brasil consomem a cachaça durante processos rito-festivos. Entre os Xucuru-Kariri, contudo, em especial entre os que habitam o Alto Rio Pardo, no sul do estado de Minas Gerais, a cachaça é totalmente proibida antes e durante as cerimônias fumadas e as festas ouricuri dentro da mata - o que não impede os indígenas de reconhecer o potencial de cura da bebida na área de habitação cotidiana, nos lugares mais exteriores à mata. Ou seja, em determinados contextos relacionais e territoriais da vida xucuru-kariri em Caldas, o poder corrosivo da cachaça aproxima-a dos agrotóxicos que adoecem o corpo mediante os alimentos adquiridos na cidade, mas, por outro lado, também a mantém relativamente próxima dos enteógenos que são igualmente classificados como remédio. A ideia do trabalho é explorar alguns sentidos em torno da bebida alcóolica, demonstrando que, em comparação ao seu consumo por outros povos indígenas no Nordeste brasileiro, ela se opõe apenas muito contextualmente às substâncias com poder de cura para os Xucuru-Kariri no Alto Rio Pardo. O problema, enfim, é o limiar entre as categorias de veneno e remédio em específicos processos de alcoolização.