Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
VIA FRANCILINA: errâncias artístico=antropológicas
Há mais de vinte anos tenho me dedicado à realização de trabalhos de representação, interação e intervenção sócio=artísticas. Para esta edição da RBA proponho apresentar obras realizadas ao longo destes anos; desde a monografia, realizada em suporte visual durante a graduação em Ciências Sociais na UFMG, chegando às pesquisas atuais, desenvolvidas no doutorado em Criação Artística na Universidade de Aix-Marseille, na França. As produções em questão se materializam em forma de livros, exposições, textos, curadorias, performances e situAções.
Considerando o texto de Hal Foster « The artist as ethnographer » como marco reflexivo incontornável das contaminações entre o fazer antropológico e artístico, realizarei uma refração crítica a partir das criações da minha lida e suas repercussões. Partiremos da análise do ensaio etnofotográfico « vi elas » (2001-2007), realizado a partir das interações com/na Guaicurus, o maior complexo de prostituição das Américas. Esta empreitada deu origem ao livro-objeto homônimo, que foi um dos trabalhos precursores em antropologia visual a ser apresentado formalmente como requisito para obtenção de um título acadêmico. Trataremos do outros desdobramentos desta investigação, como o livro Limbo (2015), a exposição Umbral de las Pasiones (2013) e o site specific Inframundo Tropical (2014).
Outro foco de apreciação se dará em torno das situações sociais criadas a partir de curadorias artísticas, que articularam períodos de residência, criação e exposição. Serão apresentadas as experiêncas do Museu do Sexo Hilda Furacão, onde artistas habitaram, interagiram e criaram a partir da vivência nos prostíbulos da Guaicurus. Outro projeto examinado será o « Cemitério do Peixe : Arte, Morte, Magia », uma comunhão artística que convergiu centenas de seres em uma cidade dedicada às almas encantadas, na região diamantina das Minas Gerais.
JaymeFygura é artista maior, que transcendeu a vida ordinária, incorporando Exu na totalidade da sua vida pública. Fygura passou mais de 30 anos sem mostrar seu rosto em público e tive a honra de publicar um livro biográfico, coordenar diversas exposições, além de consolidarmos fortes laços de amizade. Um pequeno resumo da intercessão dos nossos percursos e experiências também será contemplado nesta apresentação.
Chegaremos à Via Francilina, uma errância baseada num deslocamento físico pela superfície da terra. Uma marcha artística que atravessa o continente Europeu, África e Brasil. Tratarei do conceito de fotografia ancestral e da formação de um trajeto cultural baseado na interAção com diversos seres e comunidades encontradas.
Diálogos com/entre natureza, sociedade e transcendência serão tecidos numa perspectiva antropológica, a partir dos e+feitos de uma arte engajada.
O futuro é ancestral.