Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Composição, emaranhado e lugar-criação: desestabilizando a prática e a análise musical com a diferença.
Paulo Oliveira Rios Filho (UFSM)
O presente trabalho apresenta um percurso de pesquisa na área de composição musical, iniciado em 2011, em meu doutorado, e desdobrado até aqui principalmente através dos projetos do grupo de pesquisa CM.ÊPA! - Criação musical, experimentação e pesquisa artística (UFSM/CNPq), no Departamento de Música da Universidade Federal de Santa Maria, onde atualmente sou professor. Trata-se de apresentação de uma proposta de análise musical calcada na imaginação feita com linhas de toda sorte: linhas melódicas, linha rítmicas; os fios sinuosos das senóides espectromorfológicas e das representações diagramáticas das propriedades sonoras; os padrões de vibração das cordas e das colunas de ar, mas também os traços de memória, as trajetórias riscadas dos afectos musicais, os percursos lineares de criação, as setas atiradas de ideias e os corpos de diversas natureza (o corpo-compositor, o corpo-instrumento, -rascunho, -partitura, -som), que também são linhas. Tal análise se configura não mais como um corpo textual assessorado por exemplos em imagens, mas sim como uma análise diagramática assistida pelo verbo, onde agenciamentos (Deleuze; Guattari, 1995) musicais são traçados entre zonas analíticas e composicionais de um mesmo lugar (Ingold, 2011, p. 148), aqui entendido enquanto um emaranhado complexo de linhas em constante movimento. Esse esforço de criação analítica parte, assim, de um contexto mais amplo dado pela pesquisa artística (Coessens et al, 2009; López-Cano, 2020), lançando mão da criação e manutenção de evidências do meu próprio processo criativo (rascunhos, anotações, vídeos, registro de conversas e sensações, diários de campo composicionais, etc.). Por fim, tal horizonte metodológico é empregado para, ao longo de um percurso de comunicação entre pessoas, coisas, ideias e sons, tentar desestabilizar, com essas outridades, meus pensamentos e sentimentos particulares (Goldman, 2009, p. 132)mais do que isso: para tentar desestabilizar, através da diferença e com ela, teorias e práticas artísticas e seus reflexos no campo da pesquisa acadêmica em música.