Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 097: Sistema de justiça e a (re)produção da cultura jurídica brasileira
A construção discursiva de um feminicida em mídias sociais de grande circulação: o caso Doca Street
Trato da construção discursiva da identidade de Doca Street, assassino de Ângela Diniz, em mídias
sociais de grande circulação à época do crime e de seu desfecho. Com base em algumas noções da análise do
discurso de matriz foucaultiana, tentei apreender como os jornais Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O
Globo e o Estado de Minas, bem como as revistas Veja e Manchete inscreveram sentidos sobre o autor do
assassinato e do crime, a partir do gênero e de suas interseccionalidades com os marcadores sociais de
classe, sexualidade e cor/raça, com foco nas masculinidades, enquanto chave de leitura em perspectiva
histórica.
No caso do assassinato de Ângela por Doca, os discursos em disputa mais evidenciados são o conservador, de
viés misógino, que vitimiza o assassino e constrói uma representação negativa da assassinada, com base no
histórico de vida de ambos, principalmente no que se refere as suas relações afetivo-amorosas, associadas
por vezes a questões de classe, cor/raça e religião, a partir de um olhar ancorado em padrões normativos de
um determinado tempo-lugar; e um progressista, de viés feminista, que denuncia a violência e a opressão de
homens sobre mulheres e que reivindica a igualdade de direitos entre ambos. Por meio desses discursos, é
possível apreender a maneira como o fenômeno da violência de gênero contra mulheres, em circunstâncias
afetivo-amorosas e/ou sexuais, é sintomático do conflito de valores hegemônicos vs contra-hegemônicos, onde
estão colocadas em pauta as relações hierárquicas entre masculinidades e feminilidades.
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