ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
Jongo, “música popular” e “caráter nacional brasileiro” nos meados do século XX: um estudo antropológico a partir dos acervos da Hemeroteca do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular-CNFCP
O jongo, presente ainda hoje na região sudeste brasileira, consiste em prática cultural marcada por cantos enigmáticos – isto é, o lançamento poético de palavras metafóricas, quase sempre em tom de desafio entre os participantes, acompanhadas do som de instrumentos de percussão – e dança, sendo os primeiros registros sobre sua existência datados do século XIX. Seus referenciais históricos remontam aos tempos da escravização de negros africanos no Brasil, e evidencia influência de aspectos culturais do complexo banto. Por sua importância histórica e cultural, foi reconhecido Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, em 2005. Especialmente, desde o início deste século XXI uma gama de pesquisas tem se voltado a produzir dados etnográficos junto a diversas comunidades jongueiras. Não obstante, muitos aspectos sobre a existência do jongo ainda estão por ser estudados e evidenciados a partir de incursões investigativas. Dito isso, a presente comunicação se volta a apresentar dados sobre a relação entre o jongo e o que se convencionou chamar “música popular” no Brasil. Mais especificamente, objetiva-se demonstrar como o jongo despertou a atenção de musicistas eminentes no cenário brasileiro de meados do século XX e como deu-se a conhecer nesses circuitos. Para tanto, foram analisados recortes de periódicos existentes no conjunto de acervos da Hemeroteca do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, cujo trabalho antropológico empreendido voltou-se a compreender o que os noticiários que fizeram referência ao jongo em meados do século XX (mais especificamente, entre finais da década de 1940 e finais da década de 1960) podem revelar sobre ideações e imaginações, configuradas em narrativas escritas, sobre o jongo e o mercado da música popular brasileira. No conjunto de acervos da Hemeroteca, que conta com quase 60.000 (sessenta mil) recortes de jornais, foram identificados 629 registros sobre o jongo. A análise sobre tais fontes permitiu constatar que, além da preocupação de fundo em definir o caráter nacional musical, havia uma marcada relação de mediação entre jongueiros e os autores que estiveram com (e escreveram sobre) eles em diferentes ocasiões registradas nos fragmentos de jornais; uma relação baseada em processos criativos em que os intelectuais que se voltaram ao jongo para classificá-lo como “música popular” passaram a "inventar" – no sentido de tomar consciência, nomear e definir – a cultura do jongo nesses termos, assim como os jongueiros, no contato com esses interessados pela cultura do jongo, envidaram esforços para configurar criativamente a sua cultura nessa relação. Tais dados permitem, pois, contribuir com os estudos e discussões sobre “música popular brasileira”, bem como sobre os modos como o jongo foi tomado como bem cultural da nação