ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 028: Antropologias e Deficiência: etnografias disruptivas e perspectivas analíticas contemporâneas
O autismo por relatos: o compartilhamento de experiências no diagnóstico tardio de adultos autistas
O autismo há muitos anos é visto como uma “condição infantil” (Caitité, 2017) e, apesar do conhecimento investido, é importante destacar que o repertório subjetivo dos profissionais – dentro e fora do campo da saúde – é orientado para identificação do autismo em um determinado perfil de sujeito, sobretudo meninos brancos e cisgênero. Entretanto, muitos autistas – principalmente os que fogem ao estereótipo acima mencionado – são diagnosticados tardiamente, já adultos. É comum que, durante a vida, aprendam a mascarar suas características mais “autísticas”, em busca de uma inclusão postiça entre “neurotípicos”. Esse artigo se dedica a explorar de onde vem a suspeita do autismo para essa pessoa adulta, e o que faz com que pessoas negras, mulheres, transgêneras se perguntem: “é possível que eu seja autista?” A hipótese do trabalho é que relatos de experiências vividas, histórias, fofocas –compartilhadas através de redes sociais e conversas informais – são um grande motivador dessa suspeita e das investigações na idade adulta. Para além da “lista de sintomas” do DSM-5 ou do CID-11, é através da conexão com pessoas autistas, suas histórias e experiências, que possibilita uma identificação e, então, a suspeita, que levaria à procura pela investigação do autismo. Nicolau e Assis (2023) articulam que, da mesma forma que culturas e identidades foram oprimidas e apagadas, pessoas autistas são escondidas e excluídas numa sociedade capacitista, e que a única maneira de descolonizar o autismo é entendê-lo como identidade social e deficiência, mas também incentivar, dar voz e ouvidos às perspectivas autistas. Não há descolonização do autismo sem protagonismo autista. Dessa forma, o presente trabalho busca a autoetnografia de uma pessoa autista, branca e não binária, numa linguagem diferente da usual para pesquisas e textos acadêmicos: os quadrinhos. Por permitir uma "conversa" com o leitor, os quadrinhos configuram um meio de comunicação especialmente eficaz não apenas para produzir conhecimento a partir de um protagonismo autista, mas também aumentar a capilaridade e impacto desse conhecimento. Pretende-se, então, contribuir para a descolonização do autismo através do compartilhamento da experiência de autistas com seu diagnóstico tardio.