Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 101: Trabalhos etnográficos com população em situação de rua: modos de existir/resistir, políticas, governos e agências
Um estudo etnográfico: novos personagens da e na rua após o isolamento social do covid-19 na região
central de Belo Horizonte.
Essa proposta é resultado de uma pesquisa etnográfica, em desenvolvimento, que tem como objetivo
analisar as situações sociais decorrentes do covid-19 (pós isolamento) para as pessoas que vivem nas ruas e
para os novos personagens da rua, no centro de Belo Horizonte. A pandemia gerou problemas dramáticos e
graves para os grupos em situação de vulnerabilidade, como os moradores de periferia, pobres, sem
qualificação de mão de obra, desempregados, imigrantes, entre outros (NATALINO, 2020, p.7). Esse cenário se
agravou, marcadamente por falta de trabalho e precárias condições financeiras para pagar aluguel, luz, água
e comida, contribuindo para que os novos personagens fossem viver nas ruas em abrigos improvisados, fazendo
uso dos equipamentos públicos, especialmente nos centros das cidades. Conforme a pesquisa do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), a população que vive e sobrevive nas ruas do Brasil cresceu 38% entre
2019 e 2022, atingindo 281,4 mil pessoas, o que denota o aumento expressivo dessa condição de vida na
sociedade. Nesse contexto, a questão que orientou essa pesquisa foi: quais são as condições das pessoas que
estão vivendo na rua no período pós isolamento social, quanto às representações sociais, os efeitos na saúde
física e mental, relações familiares, experiências de trabalho e planejamentos futuros. Podemos afirmar que
os novos personagens no centro de Belo Horizonte se encontram na faixa etária entre 18 anos a 35 anos,
população jovem, predominantemente do gênero masculino, sem formação de mão de obra especializada para o
trabalho, sem endereço fixo, drástica interrupção de vínculos sociais, escolares e familiares, apresentam
sofrimento mental, particularmente depressão e problemas clínicos. Essa condição leva os novos personagens a
demandarem aos serviços públicos de assistência social - ONG´s, Pastoral Nacional do Povo da Rua -, em busca
de formação de mão de obra para a inserção no mercado de trabalho, moradia e assistência à saúde. Em suas
narrativas, apesar da luta diária para viver e sobreviver nas ruas, é notável um empenho para construir
sociabilidades, ajuda mútua, apropriação dos espaços públicos e novas interações sociais.