Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
As "sobrinhas de Zora": fazendo parentes para reaprender a ensinar Antropologia
O presente trabalho busca compartilhar reflexões acerca da experiência de ensino da disciplina
"Introdução ao pensamento de Zora Neale Hurston" no curso de graduação em Antropologia da Universidade
Federal de Minas Gerais. O curso foi ministrado pelo prof. Rubens Caixeta junto às alunas da pós-graduação
Nicole Batista (autora deste resumo), Rafaela Rodrigues e Steffane Santos no segundo semestre de 2023.
Hurston foi uma pesquisadora, antropóloga, escritora e cineasta estadunidense, que viveu no início do século
XX, deixando contribuições inovadoras para o pensamento antropológico, mas que foram interditadas pelo
racismo e sexismo de seu contexto. O trabalho busca refletir sobre a retomada da obra da autora a partir de
suas potencialidades para a formação e ensino dentro dos cursos de Antropologia e Ciências Humanas. Esse
movimento se orienta por dois pólos: 1) o ensino sobre os aspectos metodológicos inscritos por Hurston, ou
seja, seu modo aberto e multidisciplinar de realizar pesquisas etnográficas; 2) a ampliação do ensino de sua
obra em disciplinas obrigatórias de teoria e método antropológico, recusando seu engessamento exclusivo em
cursos de pensamento negro e/ou feminista. A partir desses aspectos ficaram evidentes as alianças possíveis
entre esses fazeres e os novos múltiplos olhares que vem ocupando a Antropologia nos últimos anos.
Compreendeu-se a sala de aula como lócus fértil para o desenvolvimento e fortalecimento de alianças entre o
pensamento de Hurston e o desses novos sujeitos que vem ocupando a universidade (pessoas negras, povos
indígenas, estudantes de classe popular). Tais alianças são propostas a partir da ideia de "fazer parentes"
(Haraway, 2016) suscitada ao longo da disciplina a partir da identificação das estudantes com a expressão
"sobrinhas de Zora", cunhada por Walker (2021) ao longo de sua retomada pelo trabalho da autora. Além disso,
ao analisar as relações de ensino e aprendizagem instituídas ao longo da disciplina compreendemos que olhar
para o trabalho de Zora Hurston nos obrigou a enfrentar as ficções persuasivas da Antropologia (Strathern,
2019) e aceitar novas proposições não sequenciais ou não lineares para a história da disciplina. Ou seja,
com a experiência do ensino percebe-se que Hurston não somente nos impulsiona a encarar as complexidades da
produção de conhecimento no campo das ciências humanas, mas nos chama a assumir as subjetividades que estão
envoltas em nossas perspectivas teóricas e metodológicas, em nossa forma de narrar a História, o tempo,
nossas próprias ficções.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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