Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
A valsa da revendedoria: uma etnografia dos modos de sustento e reprodução social da vida no bairro Vida Nova de Campinas-SP
O presente trabalho é produto das reflexões etnográficas do projeto de pesquisa PIBIC em que estou atualmente inserida cuja temática é a revendedoria de cosméticos no bairro Conjunto Habitacional Vida Nova de Campinas-SP. Ele se insere em uma série de reflexões contemporâneas da antropologia econômica (L’ESTOILE 2020, NAROTZKY y BESNIER 2020, ÁLVAREZ y PERELMAN 2020) que propõe uma saída analítica às explicações abstratas em que a economia se confunde com o mercado. A abordagem etnográfica das “formas de ganarse la vida” (ÁLVAREZ y PERELMAN), busca capturar a complexidade da reprodução social da vida, dando ênfase às múltiplas relações não necessariamente econômicas que constituem e orientam a economia “por baixo” (L’ESTOILE). No caso da revendedoria de cosméticos, realizada por meio da venda direta por milhões de mulheres no mundo, existe uma centralidade nas relações e vínculos sociais que de um lado são mobilizados pelo branding das marcas e de outro são cultivados pelas revendedoras em forma de estratégias de venda. São elas as responsáveis por garantir que os produtos adentrem nos mais diversos espaços através do vínculo, de modo que a compra e venda de produtos adquire sentidos extra monetários, em especial por se enquadrar em uma relação trabalho-consumo-relações de vizinhança cujos lucros, são dificilmente mensuráveis. Busco levantar indagações em relação às percepções de realização pessoal-profissional no contexto de transformações das formas-trabalho no contexto de flexibilização neoliberal, marcado pela centralidade do trabalho feminino na reprodução social da vida. A partir da etnografia coloco em perspectiva a esfera da economia do lar (oikonomia) em seus sentidos de construção de “vidas que valham a pena serem vividas” (NAROTZKY y BESNIER), dado que o ritmo flexível da revendedoria segue a valsa da incerteza (L’ESTOILE, 2020): característica estrutural que no contexto da financeirização da economia e da vida, com a tendência de privatização de serviços básicos - tensiona as formas de produzir valor e existir com dignidade.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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