Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
O imaginário do Carimbó nas paisagens urbanas de Belém do Pará: o curimbó como resistência cultural das
ruas
Na região metropolitana de Belém do Pará é onde podemos afirmar que existe o Carimbó Urbano, um tipo de
vertente estilística da manifestação cultural do Carimbó, patrimônio cultural imaterial brasileiro. Neste
campo, imerso nas rotinas do ir e vir que ocupam as ruas, praças, feiras e mercados é possível ouvir
frequências rítmicas que por vezes se destacam no cotidiano, imersos na variedade sonora imensurável que
pulsa na cidade. Este ritmo é o do curimbó, que no Carimbó é o tambor que dá nome à manifestação e é
condição necessária para a permanência da tradição carimbozeira através dos tempos. As representações
relacionadas a ele vinculam-se ao imaginário afro-amazônico, também responsável pela formação de aspectos da
cultura local, que atualmente dialogam com as expressões da modernidade contemporânea, neste caso,
conectadas aos discursos de resistência cultural no meio urbano. Neste estudo, analiso o Carimbó percebido e
vivido nas paisagens urbanas de Belém, levando em conta o imaginário que o compõe e o inscreve no cotidiano
das ruas, no dia-a-dia dos carimbozeiros na relação com a população nos espaços de sociabilidade. Parto de
minha experiência na vivência com o Carimbó enquanto pesquisador no campo antropológico, produtor cultural e
carimbozeiro, para então propor uma etnografia sonora do curimbó na capital paraense a partir da atuação de
mestras, mestres e grupos que fazem das ruas o ambiente para consagração da arte e cultura carimbozeira.
Para muitos, o Carimbó é um estilo de vida, que remete às várias dimensões deste código cultural, expressas
na cantoria, poesia, visualidade e celebração de sua sabedoria e saber-fazer característico. No entanto, a
cidade, com seus espaços urbanos caóticos, é um território sujeito a acordos e conflitos entre quem circula
diariamente nos locais comuns, o que implica dinâmicas de aceitação a ocupação dos espaços de sociabilidade,
muitas vezes reservados arbitrariamente ou restritos aos ordenamentos do poder público. Neste contexto,
considerando a atuação de movimentos culturais de Belém, entre eles os carimbozeiros, que propõem
programações em espaços públicos, e as limitações existentes para as suas atividades, é fundamental refletir
sobre a representatividade e resistência de uma cultura popular no espaço urbano e como a presença dos
tambores, como o curimbó, historicamente ainda provocam a atenção do público, seja partilhando momentos de
consagração da cultura, ou mesmo de repressão aos movimentos e expressões culturais de populações pobres na
urbe. Portanto, as paisagens urbanas de Belém revelam um universo compartilhado com e pelo imaginário
carimbozeiro, que se afirma enquanto tradição local e mantém seus códigos culturais e formas de
sociabilidade resistindo no cotidiano de uma metrópole amazônica.