ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
Rizomas, escalas e criações: tecnopolíticas quilombolas e bananeiras no Vale do Ribeira
É possível inferir sobre uma antropologia da monocultura a partir de redutos onde resiste a diversidade? O que pode dizer uma antropologia da técnica que investiga as relações entre humanos e não-humanos sobre o caráter das desigualdades raciais, ecológicas e políticas tanto nos contextos de perturbação ostensiva do mundo da monocultura quanto dos envolvimentos ecossistêmicos de comunidades quilombolas em seus territórios? Essas questões são mobilizadas a partir da pesquisa de mestrado em andamento “A arte de resistir no Plantationoceno: roças quilombolas e monocultura da banana no Vale do Ribeira” (título provisório), realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (PPGAS/FFLCH/USP). A apresentação deste trabalho pretende relacionar as noções de tecnodiversidade, proposta pelo filósofo Yuk Hui (2020), de escalabilidade e não-escalabilidade em Anna Tsing (2019) e discussões sobre o cultivo de plantas de um ensaio de André-Georges Haudricourt (2013 [1962]) com o contexto etnográfico da pesquisa que descreve as transformações técnicas dos manejos de variedades de bananeiras (Musa spp.) nas comunidades quilombolas da região do Médio Rio Ribeira de Iguape, nos municípios de Eldorado/SP e Iporanga/SP. Com a patrimonialização do Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2018, que inventariou um conjunto de práticas e saberes dos modos de vida de 19 comunidades quilombolas da região, os órgãos ambientais passam a reconhecer, por meio de dispositivos jurídicos, direitos associados às práticas da agricultura quilombola itinerante a partir de “indícios de tradicionalidade” (SIMA, 2022). A tecnodiversidade nos cultivos de bananeiras em associação com as práticas e saberes ancestrais quilombolas passam a ser encarados como um problema pela fiscalização ambiental, reverberando conflitos com a ecologia política diversificante das comunidades quilombolas. Pensadas enquanto redes sociotécnicas (Latour, 1994), as mediações entre quilombolas e bananeiras em sua diversidade se filiam a continuidades e descontinuidades técnicas, atravessadas por memórias, resistências, processos de diversificação ecológica e por tensionamentos coloniais ocasionados pela associação histórica da monocultura da banana com a sobreposição de unidades de conservação nos territórios quilombolas. A presente pesquisa busca somar às discussões da antropologia da técnica no Brasil a partir dos rizomas de bananeiras que transitam entre a ecologia diversificante quilombola e a produção de mundo da monocultura.