ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
A maquinização da sangria de seringueira: um novo capítulo em uma linhagem técnica
Há dez anos apresentei, na primeira edição do GT antropologia da técnica, um trabalho sobre uma faca motorizada que havia sido lançada pouco tempo antes no interior de São Paulo e que prometia substituir as centenárias facas utilizadas para realizar a sangria de seringueiras (Hevea spp.). Trata-se de um ofício altamente dependente das habilidades manuais de trabalhadores que, em plantações localizadas em diferentes regiões tropicais do mundo, desde o final do século XIX, extraem o látex das cascas dessas árvores nativas da Amazônia, um produto que está na base da produção de borracha natural. Naquela ocasião, a faca motorizada havia falhado, não havia sido adotada nas plantações de seringueira localizadas no interior de São Paulo (nem em outras regiões do país). A partir de etnografia realizada junto a trabalhadores na região com maior concentração de plantios da árvore produtora de borracha, discuti a fenomenologia da interação humano-máquina-vegetal envolvida na rejeição do objeto técnico. Dez anos depois, uma nova faca motorizada de sangria é anunciada, dessa vez em desenvolvimento em uma nova região produtora da borracha natural, no cerrado goiano, próxima a Brasília e a Goiânia. Dessa vez, circulam informações sobre a eficácia do novo objeto técnico que, diferente do anterior, gera interesse e euforia em produtores rurais e técnicos da heveicultura. A história da produção da borracha natural é reveladora de processos característicos do campo que vem sendo denominado “plantationoceno”, como a intensificação da disciplina e da dominação de seres humanos e não humanos (Chao, 2022). Nessa comunicação pretendo analisar esse novo capítulo na linhagem técnica da extração da borracha, descrevendo a recepção da nova máquina em campo e situando as reflexões a respeito do desejo patronal pela maquinização (Di Deus, 2017) da sangria de seringueiras e da eliminação do chamado “problema da mão de obra” no contexto das discussões sobre o plantationoceno.