Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Escapar para fazer a vida entre ruínas do açúcar em Cuba
A plantation colonial, capitalista e socialista deixou cicatrizes nos territórios e nas pessoas dos bateyes açucareiros cubanos. Não é incomum vislumbrar chaminés-obeliscos sem sinais de fumaça, fincadas em paisagens que misturam tempos e experiências: restos de "barracões", cana-de-açúcar, casas de arquitetura americana, ferragens do socialismo soviético, plástico, placas de cimento, zinco, poeira. A proposta deste paper é entrar em algumas das fissuras desse mundo-de-açúcar, fantasmático e imerso numa dinâmica de corrosão. As pessoas habitam e convivem nesse mundo, do qual precisam "escapar" para "fazer a vida". O objetivo é descrever etnograficamente como os moradores dos bateyes (comunidades açucareiras, numa tradução precária) constituem-se como sujeitos "escapados" e inventam formas de "escapar" e transmutar um presente "parado" em um futuro "em movimento". Um dos elementos dessa descrição se concretiza nos modos pelos quais as pessoas lidam com detritos sociais, políticos e materiais, que, por um lado, conformam seus corpos e ações e, por outro, oferecem matérias e relações para produzir e consumir em meio à "necessidade", bem como para zombar de modelos de governo. A análise dessa dinâmica pode ser um meio de revelar a existência de engajamentos que traduzem complexos regimes de convivialidade entre parceiros, coisas e histórias na Cuba pós-soviética.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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