Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 086: Povos indígenas e experiências de construções biográficas
Caminhos Invisíveis: Crianças Indígenas em Manaus e a História Não Contada da Era da Borracha
Ao focar nas trajetórias de crianças indígenas em Manaus no final do século XIX, esta apresentação conta
uma história da opulenta cidade da borracha que não se vê em livros didáticos nem na historiografia
tradicional da cidade. Nesta narrativa, delineio a história das redes de poder relacional que orquestrou a
circulação de crianças, trabalho infantil e inserção em internatos na Paris dos Trópicos. Através da
história de vida de Angela, Benedicta e Pulcheria, é possível entender num nível micro como a concessão, ou
negação, da cidadania operava para as populações indígenas no período pós-independência, marcado pela
crescente precarização que ainda permeia a realidade indígena contemporânea no Brasil. A história do Brasil
perpetuou por muitos anos uma perspectiva das populações brasileiras como vítimas passivas ou como heróis
que se sacrificaram aliando-se aos colonizadores, portanto, personagens idealizados de um passado distante.
Essa narrativa histórica escrita do ponto de vista do colonizador e criada para consolidar uma ideia de
nação homogênea sobre a égide do Tupi legitimou uma antropologia das perdas. A partir dos anos 90, o campo
da história indígena tem desafiado essas narrativas que relegavam os indígenas a papéis secundários na
história do Brasil. Deste modo, ao enfocar possíveis construções biográficas do passado, podemos fortalecer
os esforços em escrever uma história e uma realidade contemporânea embasadas em diversas vozes.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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