Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
Entre Linhas e Cidades: identidades, territorialidades e sagrado no culto de Catimbó-Jurema
O presente trabalho tem como objetivo desenvolver reflexões acerca das relações entre identidade e
territorialidade nos Mestres e Mestras encantados, entidades espirituais que atuam no Catimbó-Jurema,
tomando como campo de pesquisa a cidade do Recife/PE.
Considerando a distinção à classificação da "falange" na prática religiosa das Umbandas, as entidades
juremeiras emergem como agentes que, mesmo submetidos ao processo de "encantamento" (passagem do mundo
material para o espiritual), preservam em suas manifestações mediúnicas seus comportamentos, identidades
nominais, alcunhas, ocupações, preferências e outros traços distintivos que possibilitam aos adeptos
reconhecerem suas singularidades individuais. Isso resulta na singularidade de cada Mestre ou Mestra, uma
vez que foram indivíduos distintos durante sua existência terrena.
Além de analisar essas identidades, buscamos investigar a dinâmica da interação entre identidade,
territorialidade e locus sagrado. Especificamente, examinamos como os territórios ocupados ou frequentados
pelos Mestres e Mestras se convertem em espaços sacralizados para os praticantes da Jurema, como por exemplo
áreas específicas da cidade do Recife, como a Rua da Guia, bairro da Mustardinha, Cais do Porto dentre
outros. Como metodologia de buscar esses marcadores entre identidade e territorialidade, nos debruçamos em
analisar os cânticos sagrados, também chamados de "linhas" de Mestres e Mestras como Tertuliano, Ritinha,
Preá, Manoel Quebra-Pedra, e mais.
Sendo o Catimbó-Jurema uma religião que se sustenta na tradição oral, é através das toadas que os encantados
comunicam a respeito de suas histórias de vida. Para auxílio, buscamos nas bibliografias clássicas do
estudos de Jurema, referências pertinentes para amparar nossas reflexões; em conjunto, exploramos a busca de
dados em antigos jornais, como Diário de Pernambuco, que retrata uma série de matérias expondo a política de
repressão ao Catimbó durante o início do século XX, trazendo diversos nomes de catimbozeiros apreendidos,
sendo alguns deles atualmente Mestres e Mestras.