Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 078: O campo biográfico-narrativo e a prática etnográfica: diálogos possíveis
Notas teórico-metodológicas de uma proposta de etnografia das trajetórias de docentes de escolas
públicas na cidade de Apodi-RN
A presente proposta problematiza as experiências de construções biográficas entre docentes da rede
pública estadual de ensino básico no pequeno urbano (KOURY; BARBOSA, 2020) de Apodi-RN. Trata-se da
tentativa de compreender em que medida é possível visualizar um projeto (em termos de intencionalidade
racional e reflexiva) nas narrativas biográficas de professores e professoras de escolas públicas estaduais.
Partindo da ideia de projeto enquanto categoria analítica da fenomenologia de Alfred Schütz (2018), e dos
seus usos na antropologia por autores como Gilberto Velho (2001, 2005, 2007, 2013), assim como das
contribuições da teoria bourdieusiana da reprodução (2013, 2014, 2015, 2018), o objetivo da minha pesquisa
de doutorado (junto ao PPGA/UFPB) é refletir sobre as trajetórias de professores/as da cidade de Apodi-RN,
considerando suas práticas projetivas e retrospectivas.
A minha imersão prévia no universo pesquisado e a leitura da tese de Costa (2017) me fizeram partir de duas
hipóteses: (I.) meus/minhas interlocutores/as (colegas de profissão) são oriundos/as de famílias sem
histórico de longevidade escolar; (II.) esses/as colegas/as professores/as geralmente não têm filhos/as
professores/as, o que poderia ser interpretado como a ausência de uma tradição familiar de incentivo à
profissão docente.
A partir da imersão em campo, e do uso de entrevistas narrativas biográficas (ROSENTHAL, 2014), pretendo
acessar as histórias de vida dos meus interlocutores/as, a fim de entender suas trajetórias e curvas de
vida, e como elas se relacionam com a aquisição da profissão docente. Faço, portanto, uma etnografia do meu
mundo do trabalho. Trata-se de um exercício que Velho (2007) chamou de estranhar o familiar. Logo, o
trabalho de observação exige a mobilização da escuta e de sentidos mais atentos, uma vez que também estou
cumprindo demandas do meu ofício. São as vivências do meu próprio trabalho que compõem o material
etnográfico e revelam certas nuances das práticas discursivas características da profissão docente no
pequeno urbano da cidade de Apodi.
Considerando minha própria trajetória profissional, entrevejo os porquês em termos de estímulos externos dos
altos e baixos dessas práticas retrospectivas. Há momentos em que estamos mais satisfeitos com nossa
profissão; há momentos em que essa satisfação está em decadência. Ou o inverso! Vislumbro que essas
biografias possam revelar algumas adversidades da carreira docente, e das diferentes maneiras como aparecem
nessas construções narrativas, sem perder de vista que [
] a etnografia não deve ser uma interpretação
sobre, mas uma negociação com, um diálogo, a expressão das trocas entre uma multiplicidade de vozes.
(CALDEIRA, 1988, p.141).