Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 048: Ensinar e aprender Antropologia
Antropologia como modo de fazer e tensionar o ensino de Sociologia
Fruto de um trabalho de campo realizado em uma escola pública de Belo Horizonte ao longo do ano letivo de 2023, vinculado à disciplina de Estágio Obrigatório do curso de Ciências Sociais da UFMG, este trabalho tem o propósito de investigar modos possíveis de se fazer pesquisa na confluência entre os campos da Antropologia e da Educação. Ainda que o componente curricular presente nas escolas receba o nome de Sociologia, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, publicados em 2000, já anunciavam que essa matéria deveria compreender as principais questões conceituais e metodológicas das disciplinas de Sociologia, Antropologia e Política (BRASIL, 2000, p. 36). Não obstante, ainda hoje percebemos a predominância da Sociologia nesse espaço, sendo o campo da Sociologia da Educação bastante consolidado no Brasil. É a partir desse cenário que saliento a relevância da compreensão do ensino de Antropologia para além da transposição didáticas dos conteúdos escolares, entendendo-o como uma proposta metodológica que pede uma abertura aos encontros e ao inesperado, assim como a promoção de uma sensibilização a ser cultivada no fazer pedagógico. Articulando sujeito e objeto, a professora, que aqui assume um caráter de pesquisadora que investiga a própria prática, toma seu campo como interventivo, transfigurando-o em um espaço de planejamento de estratégias e táticas capazes de gerar transformações concretas a partir da produção de uma vida relacional (BAREMBLITT, 2002). Partindo desses pressupostos, me atentei a um fator manifesto em campo e que dizia respeito ao espaço físico da escola e sua coexistência com os estudantes, constituída pela forma como as pessoas circulam ali cotidianamente, se apropriam do lugar, transformam-o e dotam-o de identidade. A escola, que a princípio parecia não estabelecer relação com ninguém, passou a ser percebida por mim pelos pixos na parede, a organização dos usos da quadra, na produção autônoma de festas pelos discentes, entre outros fluxos. Essas percepções me conduziram a uma proposta de intervenção que, através de uma explicação a respeito da minha pesquisa, me levou a convidar os estudantes a investigarem comigo através de um jogo. Abri uma caixa cheia de tralhas e espalhei pelo chão, propondo que construíssemos nossa escola com elas. À medida em que essa montagem foi se constituindo, levantei questões que nos propuseram a pensar sobre como construímos a escola que estudamos todos os dias, sendo ela também um espaço simbólico, e que nos implicarmos nesse processo de construção, é uma forma de nos aproximarmos cada vez mais da escola que desejamos.