Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Esboçando uma etnografia afrofuturista: experimentações afrofabulativas em contexto de festival
Ser uma pessoa negra dentro do espaço acadêmico é desafiador por si só; e propor a elaboração e a
amplificação de narrativas outras sobre as múltiplas existências negras no espaço-tempo torna tudo ainda
mais tenso. Exige adaptação e releitura de construções teóricas acadêmicas enquanto contorna, no seu maior
sentido de ênfase, diferentes modos de ser, estar e experienciar o mundo. Assim, um fazer antropológico
atrelado à escrevivência (Evaristo, 2020) pode se construir enquanto conhecimento e experiências
compartilhadas, onde a ficção se torna a própria escrita e método etnográficos; ficção não como mentiras,
mas como construção de alguém (Geertz, 1997). Dito isso, proponho uma etnografia afrofuturista; espaço
teórico, metodológico, político, ético-estético e ontológico que permite poesia e sabedoria, crônica e
conhecimento, literatura e ciência coexistirem na/com a experimentação e possi-bilidades dentro dos
contextos de pesquisa antropológica, ao mesmo tempo em que centraliza agên-cias, narrativas e disputas de
pessoas negras, em acordo a um projeto de existência afrorreferenciado que busca imaginar e expandir os
contextos que vivem e, talvez mais importante, desejam e imaginam. Fabular/especular, na dimensão
etnográfica afrofuturista, seria reivindicar outras fontes, inspirações, orientações que não aquelas
calcadas no pensamento ocidental (hooks, 1995) que, na construção de um espaço ficcional a partir da
concretude de experiências localizadas neste espaço e no corpo negro, tornam-se um esforço antropológico que
aponta para horizontes que se transmuta em diferentes espaços a partir de um só, enquanto se mantém como
conhecimento legítimo. A partir desta proposta metodológica, exponho sua prática realizada em contexto do
AFROPUNK Bahia, festival global de cultura negra que desde 2020 existe em Salvador/BA, atravessando não só
aquelas que espelham as dimensões do festival e suas estéticas e musicares, mas também as experiências
subjetivas de autore nesta localidade e seus arredores territoriais.