Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Uma carta de amor, luta e cuidado: quando a escrivivência de trabalhadoras domésticas impacta no
pesquisar feminista
Por muitas vezes, as trabalhadoras domésticas são faladas por outrem, descrevem essas como aquelas que
estão sempre dispostas a servir e como máquinas de trabalho. Mas pouco é considerado daquilo que elas
desejam falar e construir sobre suas próprias histórias e memórias. Colocada esta problemática, o presente
trabalho é um texto fruto do meu trabalho de conclusão de curso que se caracterizou como um ensaio acadêmico
que se trata de uma carta-ensaio feita com e para trabalhadoras domésticas. Sendo uma estratégia de
possibilitar encontros, afetos e cuidado com aquelas que são colocadas em posição de subalternidade
constantemente. Para tal, a carta elaborada se constitui com diferentes intelectuais: trabalhadoras
domésticas, ativistas, teóricas e familiares. Logo, o texto articula e argumenta a partir das epistemologias
feministas negras como as nossas pesquisas são articuladas com nossos corpos, cotidianos e territórios.
Sendo realizado uma carta que se divide em três momentos: um primeiro no qual me apresento para as
trabalhadoras domésticas e digo para minhas leitoras dos meus processos de escrevivência. Nesta carta
utilizo de minhas vivências enquanto filha e neta de trabalhadoras para refletir como é desenvolver uma
pesquisa que aborda a temática daquelas que me cercam; a segunda carta do ensaio busquei evidenciar como as
leituras de narrativas feitas por domésticas proporciona um novo repertório para pensarmos mudanças em tal
contexto, algo que possibilita criamos novos imaginários a partir da coletividade proporcionada pelas
autoras; por último uma carta direcionada a articulação entre teóricas que demonstram como o ato de escrever
possibilita o registro de histórias mal contatas e o enfrentamento das opressões a partir da perspectiva de
quem tem o corpo violado. A pesquisa demonstra como a escrita é algo que está para além das normas
academistas coloniais, podendo reinventar mundos e contar histórias mal contatadas sobre o corpo da mulher
trabalhadora doméstica. Desse modo, compreendo como pesquisar com as domésticas, investigar como elas
resistiam a partir de suas escritas, me fez repensar a própria estrutura e metodologia da pesquisa, fazendo
com que o texto produzido não fosse apenas algo distante daquelas que eram sujeitas da pesquisa.
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