Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Uma carta de amor, luta e cuidado: quando a escrivivência de trabalhadoras domésticas impacta no
pesquisar feminista
Gabriela Maria Vieira dos Santos (UEMG)
Por muitas vezes, as trabalhadoras domésticas são faladas por outrem, descrevem essas como aquelas que
estão sempre dispostas a servir e como máquinas de trabalho. Mas pouco é considerado daquilo que elas
desejam falar e construir sobre suas próprias histórias e memórias. Colocada esta problemática, o presente
trabalho é um texto fruto do meu trabalho de conclusão de curso que se caracterizou como um ensaio acadêmico
que se trata de uma carta-ensaio feita com e para trabalhadoras domésticas. Sendo uma estratégia de
possibilitar encontros, afetos e cuidado com aquelas que são colocadas em posição de subalternidade
constantemente. Para tal, a carta elaborada se constitui com diferentes intelectuais: trabalhadoras
domésticas, ativistas, teóricas e familiares. Logo, o texto articula e argumenta a partir das epistemologias
feministas negras como as nossas pesquisas são articuladas com nossos corpos, cotidianos e territórios.
Sendo realizado uma carta que se divide em três momentos: um primeiro no qual me apresento para as
trabalhadoras domésticas e digo para minhas leitoras dos meus processos de escrevivência. Nesta carta
utilizo de minhas vivências enquanto filha e neta de trabalhadoras para refletir como é desenvolver uma
pesquisa que aborda a temática daquelas que me cercam; a segunda carta do ensaio busquei evidenciar como as
leituras de narrativas feitas por domésticas proporciona um novo repertório para pensarmos mudanças em tal
contexto, algo que possibilita criamos novos imaginários a partir da coletividade proporcionada pelas
autoras; por último uma carta direcionada a articulação entre teóricas que demonstram como o ato de escrever
possibilita o registro de histórias mal contatas e o enfrentamento das opressões a partir da perspectiva de
quem tem o corpo violado. A pesquisa demonstra como a escrita é algo que está para além das normas
academistas coloniais, podendo reinventar mundos e contar histórias mal contatadas sobre o corpo da mulher
trabalhadora doméstica. Desse modo, compreendo como pesquisar com as domésticas, investigar como elas
resistiam a partir de suas escritas, me fez repensar a própria estrutura e metodologia da pesquisa, fazendo
com que o texto produzido não fosse apenas algo distante daquelas que eram sujeitas da pesquisa.
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