ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Uma carta de amor, luta e cuidado: quando a escrivivência de trabalhadoras domésticas impacta no pesquisar feminista
Por muitas vezes, as trabalhadoras domésticas são faladas por outrem, descrevem essas como aquelas que estão sempre dispostas a servir e como máquinas de trabalho. Mas pouco é considerado daquilo que elas desejam falar e construir sobre suas próprias histórias e memórias. Colocada esta problemática, o presente trabalho é um texto fruto do meu trabalho de conclusão de curso que se caracterizou como um ensaio acadêmico que se trata de uma carta-ensaio feita com e para trabalhadoras domésticas. Sendo uma estratégia de possibilitar encontros, afetos e cuidado com aquelas que são colocadas em posição de subalternidade constantemente. Para tal, a carta elaborada se constitui com diferentes intelectuais: trabalhadoras domésticas, ativistas, teóricas e familiares. Logo, o texto articula e argumenta a partir das epistemologias feministas negras como as nossas pesquisas são articuladas com nossos corpos, cotidianos e territórios. Sendo realizado uma carta que se divide em três momentos: um primeiro no qual me apresento para as trabalhadoras domésticas e digo para minhas leitoras dos meus processos de escrevivência. Nesta carta utilizo de minhas vivências enquanto filha e neta de trabalhadoras para refletir como é desenvolver uma pesquisa que aborda a temática daquelas que me cercam; a segunda carta do ensaio busquei evidenciar como as leituras de narrativas feitas por domésticas proporciona um novo repertório para pensarmos mudanças em tal contexto, algo que possibilita criamos novos imaginários a partir da coletividade proporcionada pelas autoras; por último uma carta direcionada a articulação entre teóricas que demonstram como o ato de escrever possibilita o registro de histórias mal contatas e o enfrentamento das opressões a partir da perspectiva de quem tem o corpo violado. A pesquisa demonstra como a escrita é algo que está para além das normas academistas coloniais, podendo reinventar mundos e contar histórias mal contatadas sobre o corpo da mulher trabalhadora doméstica. Desse modo, compreendo como pesquisar com as domésticas, investigar como elas resistiam a partir de suas escritas, me fez repensar a própria estrutura e metodologia da pesquisa, fazendo com que o texto produzido não fosse apenas algo distante daquelas que eram sujeitas da pesquisa.