ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Uma carta de amor, luta e cuidado: quando a escrivivência de trabalhadoras domésticas impacta no pesquisar feminista
Gabriela Maria Vieira dos Santos (UEMG)
Por muitas vezes, as trabalhadoras domésticas são faladas por outrem, descrevem essas como aquelas que estão sempre dispostas a servir e como máquinas de trabalho. Mas pouco é considerado daquilo que elas desejam falar e construir sobre suas próprias histórias e memórias. Colocada esta problemática, o presente trabalho é um texto fruto do meu trabalho de conclusão de curso que se caracterizou como um ensaio acadêmico que se trata de uma carta-ensaio feita com e para trabalhadoras domésticas. Sendo uma estratégia de possibilitar encontros, afetos e cuidado com aquelas que são colocadas em posição de subalternidade constantemente. Para tal, a carta elaborada se constitui com diferentes intelectuais: trabalhadoras domésticas, ativistas, teóricas e familiares. Logo, o texto articula e argumenta a partir das epistemologias feministas negras como as nossas pesquisas são articuladas com nossos corpos, cotidianos e territórios. Sendo realizado uma carta que se divide em três momentos: um primeiro no qual me apresento para as trabalhadoras domésticas e digo para minhas leitoras dos meus processos de escrevivência. Nesta carta utilizo de minhas vivências enquanto filha e neta de trabalhadoras para refletir como é desenvolver uma pesquisa que aborda a temática daquelas que me cercam; a segunda carta do ensaio busquei evidenciar como as leituras de narrativas feitas por domésticas proporciona um novo repertório para pensarmos mudanças em tal contexto, algo que possibilita criamos novos imaginários a partir da coletividade proporcionada pelas autoras; por último uma carta direcionada a articulação entre teóricas que demonstram como o ato de escrever possibilita o registro de histórias mal contatas e o enfrentamento das opressões a partir da perspectiva de quem tem o corpo violado. A pesquisa demonstra como a escrita é algo que está para além das normas academistas coloniais, podendo reinventar mundos e contar histórias mal contatadas sobre o corpo da mulher trabalhadora doméstica. Desse modo, compreendo como pesquisar com as domésticas, investigar como elas resistiam a partir de suas escritas, me fez repensar a própria estrutura e metodologia da pesquisa, fazendo com que o texto produzido não fosse apenas algo distante daquelas que eram sujeitas da pesquisa.