ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 037: Corpo, reprodução e moralidades: disputas de direitos e resistência à onda conservadora
Sem trégua: violências nas trajetórias de jovens trans, travestis e não-binários no Brasil
O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking dos países com maiores índices de violência letal contra pessoas trans e travestis no mundo, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Os atos e expressões de violência constituem uma ameaça real em todos os domínios da vida dos indivíduos que não se conformam com as normas cis-heteronormativas enraizadas na sociedade, desde assassinatos, insultos, a restrições de acesso a espaços públicos e privados. A juventude engloba um período de múltiplos processos, incluindo a auto-descoberta, a experimentação sexual e emocional, a construção da identidade, a educação e a possibilidade de entrar no mercado de trabalho, entre outros. Esse trabalho tem como objetivo analisar as experiências e formas de violência que vitimizam jovens trans, travestis e não-binários em diferentes centros urbanos do Brasil. Os dados são provenientes do estudo multicêntrico "Jovens da era digital", realizado em 2022, e que entrevistou 194 jovens de 16 a 24 anos em 4 capitais brasileiras: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo a respeito de suas trajetórias afetivo-sexuais, práticas contraceptivas e experiências reprodutivas. A pesquisa foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e os respectivos comités de ética em investigação afiliados às instituições participantes. O corpus deste estudo é constituído por entrevistas realizadas com duas mulheres trans, uma travesti, dois indivíduos não-binários, um homem trans e uma pessoa com fluidez de gênero - definições fornecidas pelos participantes. Dentre os participantes, três relataram ter sido vítimas de violência sexual praticada por parceiros, familiares ou desconhecidos. A violência intrafamiliar foi narrada por cinco dos sete indivíduos entrevistados, manifestando-se em ameaças de expulsão, restrição de liberdade, vigilância e desrespeito aos nomes ou pronomes escolhidos. O medo de discriminação por parte das famílias dos parceiros das pessoas entrevistadas também surgiu, levando a situações como a não aceitação dos parceiros trans pela família do parceiro e a imposição de sigilo na relação. Durante a juventude, os grupos de pares assumem maior importância nas interacções sociais, sendo o espaço online uma das formas de se ligarem. Jovens trans relataram encontrar na internet, contudo, uma "terra sem lei", onde se tornam alvos de interações extremamente violentas relativas às suas existências. Dentro das vivências dos jovens trans, o medo e a violência são realidades quotidianas constantes. A família é percepcionada como um ambiente inóspito marcado pela pouca ou nenhuma aceitação das suas identidades.