Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
OS MUNDOS POSSÍVEIS DIANTE DA CRISE: fazer política com os outros no tempo-de-agora
Assimilar a existência de múltiplos mundos é o que nos faz descobrir, desde o concreto, a história
aberta postulada por Walter Benjamin (2005). A partir de realidades outras, nos deparamos com o possível,
aquilo que questiona o ilusório sentido único da história. Vislumbrar esses possíveis exige de nós lidarmos
com o desconforto produzido pelo fato de que a história não possui uma razão, tampouco um sentido linear de
progresso: os sujeitos a fazem, com suas imperfeições inerentes à condição de humanidade. No atual contexto,
a crise que transcorre suscita diferentes problemas e efeitos a distintos sujeitos, demarcando, assim, um
tempo propício para questionar os pressupostos sob os quais acreditamos viver, possibilitando, então, uma
reinvenção política. Se a crise afirma que não existe mais história, que nada fazemos, e seria a mão
invisível esse sujeito oculto, a contradizemos, nos colocando enquanto sujeitos histórico-políticos no
tempo-de-agora de Benjamin (2005), carregado de possibilidades subversivas.
Além de perceber as potencialidades quando compartilhamos sentidos com os outros, Marisol de la Cadena
propõe dar uma chance política ao equívoco (2018, p. 112), reconhecendo espaços de reivindicações num mundo
com muitos mundos, ontologicamente distintos. Aqui, propomos pensar também em outros pressupostos
necessários para fazer possível a cosmopolítica de Isabelle Stengers (2018), reclamando, como proposição e
aposta pois ela não nos promete nada, a reunião de sujeitos que levam à arena política suas cosmovisões.
Lidamos, assim, com outro desconforto, abrigado desde o locus epistêmico do qual partimos: ao mesmo tempo,
pretendemos não somente o fazer daqueles diálogos possíveis, mas aceitar que não vamos entender tudo ou até
mesmo nada daquilo que os outros nos dizem enquanto representantes de mundos outros, mas nem por isso
deixamos de tentar.
Partimos, então, do pressuposto de que os problemas complexos não vêm acompanhados de respostas. Quando nos
propomos a dialogar, aceitamos que tudo é mera tentativa no fazer histórico-político profano. Qualquer ação
humana não passa, assim, de uma aposta, mas exatamente aí reside a possibilidade de manter vivos os
múltiplos mundos. No entanto, nem tudo vale: apostamos naquelas ações que são, por sua vez, potencializadas
pela reunião dos sujeitos políticos (Stengers, 2018). Somente a reunião do nós com os outros é capaz de
trazer à luz do dia as reivindicações passadas e presentes que o tempo-de-agora gesta, fazendo nascer o
futuro. Para isso, nossa proposta passa pela hipótese de que reconhecer os outros como sujeitos políticos
requer que os reconheçamos também enquanto sujeitos históricos, fazendo com que a proposta benjaminiana de
escovar a história a contrapelo nunca tenha sido tão imperativa.