ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
Quando se alimenta o orixá, também se alimenta seu egbe: Uma etnografia no campo alimentar ancestral de terreiro e o seu impacto social.
Mariana Rodrigues dos Santos (UFAL)
Culturalmente nossas relações são definidas conforme nossa cultura ou uma junção delas, e dentro dessas relações também são definidos os costumes alimentares. Todo processo de costume de um povo passa por etapas de inserções de informações de outras culturas ou dos processos feitos mediante seus próprios costumes. Isso não é diferente com as religiões de matriz africana, onde seus hábitos alimentares foram constituídos a partir dos africanos escravizados que traziam em sua maior bagagem, a mente, os costumes, crenças e valores de sua cultura originária. E que infelizmente sofreu proibições, castigos ou qualquer outro tipo de punição conforme insistissem em permanecer com seus hábitos culturais. Assim, o vasto conhecimento dos africanos sofria cada vez mais apagamento, mas nunca deixando de existir. Com isso, mediante ao que já compreendemos sobre o período escravista, proponho nesta pesquisa debatermos a respeito do preconceito religioso e racial no contexto alimentar dos terreiros de candomblé. Como Yabassé de terreiro responsável pela cozinha e todo o preparo de alimentos votivos dos orixás e pesquisadora, percebo a resistência nos ouvintes quando se trata no falar da história dos alimentos ancestrais, mas que quando apresentado como um alimento típico de algum estado brasileiro, como por exemplo, o acarajé, e sem contexto, a receptividade referente à informação sobre o alimento é diferente. Um alimento ancestral de terreiro sem história se torna apenas um prato qualquer. O que possivelmente acontece ao se ter ciência em relação a alimentos votivos ou comuns do dia a dia do candomblé é um comportamento carregado de racismo religioso em cima de toda uma gama de pessoas pretas que foram responsáveis por criar uma cultura alimentar tão rica como a do Brasil. Com isso, proponho um debate sobre a valorização da alimentação ancestral de terreiros e suas derivações disponíveis em nossa alimentação diária e também sua inserção nos campos de saberes para que assim possamos falar sobre a história da alimentação brasileira sem precisarmos ocultar informações que fazem parte da história construída pelos escravizados que aqui habitaram. Para isso, através do meu campo de pesquisa sobre a alimentação votiva dos orixás no candomblé, trago minhas percepções juntamente com referências que dialoguem juntamente com o que está sendo proposto na pesquisa. Palavras chaves: ancestrais, alimentação, candomblé.