Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Colonialismo, fome e plantations: a migração cabila como resistência às leis de terra na Argélia Francesa (1906-1950)
Essa apresentação explora a migração como forma de resistência adotada pelos fellahin cabilas para enfrentar os impactos do colonialismo francês, durante a primeira metade do século XX. Em particular, ela debate como a migração de jovens fellahin homens, em busca de recursos econômicos, para a metrópole tornou-se uma estratégia para a manutenção coletiva da posse das terras, bem como a preservação das douars. Trata-se de uma migração temporária que surge enquanto resposta à expansão das plantations coloniais de uva, nas terras férteis argelinas, e que foram intensificadas na década de 1880 devido à crise da filoxera nos vinhedos franceses (Sayad, 2000; White, 2011). Através de fontes documentais, como mapas, será apresentado como essas plantations reorganizaram o universo rural argelino, além de alterar a produção agrícola nativa e sua dieta, levando à generalização dos contextos de fome. A metodologia deste estudo se baseia na consulta e análise de documentos armazenados em arquivos franceses, incluindo Gallica, Archives Nationales de France; Musée de lhistoire de limmigration; e Institut du Monde Arabe. Ademais, pauta-se em uma revisão literária, focada nas particularidades históricas do contexto. A colonização francesa, especialmente entre 1830 e 1900, teve um caráter fundiário, através da imposição do Sénatus-Consulte (1863) e da Lei Warnier (1873), que fundamentaram práticas destinadas a erradicar a dimensão coletiva das terras dos fellahin e impor a propriedade privada. Estratégia que assegurou não apenas o roubo de terras por parte do estado francês, mas, também, a destruição da organização social cabila (Bourdieu; Sayad, 2017). O uso do aparato jurídico conferiu uma aparência de legalidade às expropriações territoriais e garantiu o comércio de terras a favor dos pied-noirs, responsáveis pela manutenção das plantations em terras férteis argelinas. A colonização se iniciou de maneira anárquica mas passou por uma evolução, concomitantemente às leis, indo de um pequena colonização oficial, para uma grande colonização oficial e econômica, e depois progredindo para uma colonização privada (Hamani, 2015). Simultaneamente, os fellahin foram confinados em porções de terras cada vez menores e improdutivas à medida em que as plantations avançaram. Todavia, mesmo pressionados pela expansão colonial, os fellahin encontraram meios para não se submeterem à totalidade da violência colonial e recorreram, sobretudo no período entre 1906 e 1950, à emigração para a França (Gillette; Sayad, 1984). Nesse sentido, a apresentação argumenta que a manutenção da posse da terra pela coletividade, por meio da emigração, foi um ato de recusa ao processo de desestruturação imposto pelo colonialismo e às suas consequências, como as expropriações de terra e a fome.