Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
A macumba lírica de Lívio Abramo: traduções visuais do sagrado afro-brasileiro
A macumba lírica de Lívio Abramo: traduções visuais do sagrado afro-brasileiro. Em 1951, 1953, 1955, 1957 e depois em 1981, o desenhista, gravador, jornalista, pintor e professor paulista Lívio Abramo (Araraquara 1903 – Assunção 1992) produziu algumas obras em xilogravura (4), linogravura (1), litografia (1), aquarela (1), nanquim e aguada (1), às quais deu o título de Macumba. O elemento comum entre elas é a representação figurativa não realista de mulheres em movimento, dançando, algumas, seguramente, em transe já que esse é um traço, à princípio, particular às religiões afro-brasileiras. Em cada uma das imagens, o artista criou soluções líricas, pouco objetivas, descritivas ou documentais, para abordar um tema ainda hoje rodeado por preconceitos, transmitindo com sedutora precisão a circularidade, a espiritualidade, a transcendência e performance feminina na condução do rito religioso da macumba carioca. Em contato durante dois anos com um terreiro em Duque de Caxias, Abramo fugiu aos estereótipos e à folclorização do rito da macumba encantado que estava pelo movimento, ritmo e suntuosidade do evento sacro. O objetivo desta comunicação é mostrar que a série foi realizada em dois momentos de mudança social na sensibilidade em torno da macumba, na década de 1950 e na década de 1980 quando as religiões afro-brasileiras se apresentavam como uma oportunidade legítima de fé. Em depoimento de 1984, o artista se aproxima dos antropólogos que vão a campo para conhecerem, por experiência e observação, uma determinada realidade cultural e se relacionarem “cientificamente” com a cultura do outro. No contato, eles estabelecem relações de diálogo, experimentam os modos de ser e viver das pessoas em seus contextos de produção de sentido e dão forma a essa experiência por meios como a escrita e a imagem etnográfica. Abramo que admite uma “predisposição natural para tal manifestação”, dá forma a esse contato por meio de técnicas artísticas, transformando o movimento da macumba em linhas, manchas de cor, jogos de claro escuro, gestos cromáticos. Trata-se, portanto, de pensar que macumba é essa que o artista traduziu visualmente ao visitar por dois anos a casa da Mãe de Santo Dona Dalva?