ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 022: Antropologia e Povos Indígenas em Contextos Nacionais Diversos
Fronteiras nativas na costa leste-oeste da América portuguesa: colonização e trocas ameríndias na Serra da Ibiapaba, século XVII-XVIII
O objetivo da presente pesquisa é apontar algumas análises nas relações dos grupos ameríndios estabelecidos na região da Serra da Ibiapaba na capitania do Ceará e aconstrução de fronteiras no mundo colonial americano, sobretudo no período 1655-1758, através da leitura de fontes primárias, provenientes da missão jesuítica da Serra da Ibiapaba e do regime de repartição de sesmarias na América portuguesa. A pesquisa se debruça sobre documentos que relatam informações sobre as populações ameríndias que habitavam essa localidade. Os principais conjuntos documentais utilizados são: o livro “Documentos para a história colonial, especialmente a indígena no Ceará. (1690- 1825)”, a coleção de “Datas de Sesmarias”, do Arquivo Público do Estado do Ceará; além de correspondências e relatórios produzidos por padres ligados à Missão da Serra da Ibiapaba. A Serra da Ibiapaba, no século XVII, foi sede de intensos embates entre ameríndios e forças conquistadoras (missionários, colonos e bandeirantes), sendo uma área disputada por diversos sujeitos históricos. Exemplo disso é a posterior tentativa de desanexação da aldeia da Ibiapaba no início do século XVIII, causando uma disputa entre o Piauí e o Ceará. Devido à sua importância na organização da América portuguesa, Lígio Maia (2010) entende aquele espaço como uma região colonial importante para a efetivação da colonização portuguesa. A hipótese que norteia a pesquisa é que os ameríndios da região praticavam uma rede de socialidades na Ibiapaba entes mesmo dela se tornar uma região colonial, tendo elaborado um sistema de trocas culturais entre grupos (seguimos a ideia de grupos, elaborada por Peter Gow (2014)), concentrado na região da Serra da Ibiapaba durante o período colonial na América portuguesa, interagindo diretamente com o projeto de colonização da costa leste- oeste. O fio metodológico da pesquisa, sedimenta-se nas reflexões do historiador Carlo Ginzburg (2007) sobre a possibilidade de se fazer uma micro-história. Acreditamos que uma leitura aprofundada do material de estudo seria uma forma de construir reflexões mais conectadas com a atividade cotidiana e prática de grupos e populações, permitindo o que o Viveiros de Castro (2018) chamou de “equivocação controlada” na pesquisa antropológica. Dessa forma, pretende-se evidenciar as relações estabelecidas pelos grupos ameríndios locais e as interações entre suas fronteiras próprias e a constituição da colonização na América portuguesa, acentuando uma reflexão sobre o modo de trabalhar com uma documentação que deriva das tentativas de colonização na América portuguesa e nos avanços teóricos e políticos da antropologia/do movimento indígena brasileiro que permitiram pensar os povos indígenas enquanto protagonistas na história da formulação do Estado brasileiro.